(Por Demétrio Correia)
O jornal "Correio Espírita" veio com uma "pérola" do "espiritismo" brasileiro.
Assim, na cara dura, o periódico anuncia que a tal "Pátria do Evangelho" já foi inaugurada.
A desculpa é que as dificuldades e conflitos extremos em que vive o Brasil seriam "diagnósticos" de males que afligem os brasileiros há décadas.
Segundo o periódico, isso criaria condições para o "despertar dos brasileiros" por um "ideal de amor e fraternidade".
Seria também uma propaganda para tentar salvar Francisco Cândido Xavier, o maior deturpador que maculou gravemente a Doutrina Espírita no Brasil e no mundo.
Sabe-se que Chico Xavier difundiu esse papo de Brasil como "coração do mundo" e "pátria do Evangelho".
Não era uma ideia original.
Ela se inspirou no pretenso profetismo de Jean-Baptiste Roustaing no livro Os Quatro Evangelhos e adaptou ao clima ufanista do Estado Novo.
Mas ela também foi precedida pelo lema "Brasil, Berço da Humanidade, Pátria do Evangelho" que Leopoldo Machado lançou na FEB, em 1934.
A patriotada de Chico Xavier vêm à tona com a conversa para boi dormir que o Brasil se prosperará no comando de uma suposta missão religiosa.
Isso é muito perigoso, porque reeditará, em terras brasileiras, a fase medieval do Império Romano, quando floresceu, sob o imperador Constantino, o Catolicismo da Idade Média.
O Catolicismo medieval se valeu de uma supremacia política e religiosa que custou o extermínio de multidões imensas.
O pretexto também era o mesmo: uma religião "fraterna", supostamente baseada nos ensinamentos de Jesus de Nazaré e destinada a "unificar" toda a humanidade.
Quem discordasse dessa "união fraterna" era condenado, seja pela espada, pela forca, pelo fuzil, pelo veneno ou algum outro tipo de arma mortal.
A desculpa era que os hereges "atrapalhavam" a missão "unificadora" da "Santa Igreja".
O filme pode se repetir com o papo do "Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".
Evidentemente o enunciado só vai dizer maravilhas.
Os "espíritas" prometem que reagirão aos novos hereges com "tolerância", "misericórdia" e "sabedoria".
O "espiritismo" brasileiro afirma que a "missão fraterna" da "pátria do Evangelho" é "mais profunda", "mais sincera" e "pura".
Conversa para boi dormir.
Foi provado que os "espíritas", quando podem, fazem juízo de valor para explicar os infortúnios sofridos por outrem.
Chico Xavier e Divaldo Franco têm em seu histórico juízos de valor dos mais perversos, avaliações de dívidas morais feitos ao arrepio da Ciência Espírita.
Chico acusou as pobres multidões vítimas do incêndio em um circo em Niterói de terem sido "romanos sanguinários".
Divaldo acusou os refugiados do Oriente Médio de terem sido "tiranos colonizadores" do tempo das primeiras grandes navegações.
Na futura "pátria do Evangelho", os "espíritas" podem muito bem usar a desculpa dos "resgates coletivos" para cometer genocídios e de "resgates morais" para eliminar hereges.
E aí chegamos ao Brasil de hoje e o que temos? O presidente Michel Temer sendo salvo, mais uma vez, de ser investigado ou condenado.
Uma votação na Câmara dos Deputados resultou em 263 votos rejeitando a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente da República, por corrupção passiva.
Apenas 227 queriam que a denúncia tivesse continuidade no Supremo Tribunal Federal e outros 23 parlamentares estiveram ausentes (2), se abstiveram (19) e no caso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não votou por determinação do regimento interno da casa.
Michel Temer, para quem não sabe, parece agradar muito os "espíritas", que parecem felizes com o atual momento.
Nenhum "espírita" assumiu que apoia Temer, mas os textos confirmam o apoio que a postura aparente não demonstra.
Os "espíritas" elogiaram as patéticas passeatas dos "coxinhas" e "bolsomitos" como "indícios de regeneração da humanidade" e "despertar do povo brasileiro".
Em seguida, várias fontes "espíritas", mesmo o português "Artigos Espíritas", passaram a escrever textos fazendo apologia ao sofrimento, bem nos moldes da Teologia do Sofrimento.
A Teologia do Sofrimento é uma corrente medieval da Igreja Católica, mas ela é mais apreciada pelos "espíritas" do que pelos próprios católicos. Chico Xavier adorava essa ideologia.
São textos aberrantes que pedem para as pessoas amarem a desgraça, abrirem mão de suas necessidades, abandonarem seus desejos e viver conforme as imposições do "Alto".
Isso coincide com o cardápio amargo que Temer impõe aos brasileiros: reforma trabalhista, reforma previdenciária, congelamento de verbas públicas, terceirização para atividades-fim nas empresas.
Ou seja, os brasileiros terão serviços públicos sucateados, os empregados trabalharão mais e ganharão menos, as aposentadorias ficarão para o além-túmulo e os patrões poderão cometer seus abusos livremente.
Os "espíritas" piram. A tal "ponte para o futuro" de Temer, sob a ótica "espírita", irá impor aos brasileiros um espírito de renúncia e aceitação do sofrimento.
Temer pode ser conhecido como o presidente "espírita", neste sentido.
Os "espíritas" vão exaltar até a reforma previdenciária, porque a aposentadoria só se dará quando o beneficiado retornar à "pátria espiritual". Será a aposentadoria do pós-morte.
Só precisam informar que valor em "bônus-hora" (a tal "moeda" de Nosso Lar) corresponde a um real.
As pessoas nem precisam comprar comida, porque precisarão pagar as contas, que serão mais caras.
Basta ler os livros de Chico Xavier e Divaldo Franco, que os "espíritas" se gabam em dizer que são "alimento para a alma". Sofrer de fome é só um detalhe.
Para uma religião que pede para as pessoas "amarem o próprio sofrimento", como se fosse bom ser masoquista, o governo Temer oferece uma pauta maravilhosa para o "combate à crise".
O papo dos "espíritas" de que o Brasil "se tornou pátria do Evangelho" lembra muito o de Temer dizendo que o país "está retomando o crescimento".
Temer havia citado: "não fale da crise, trabalhe". Lembra Emmanuel: "não reclame, trabalhe e ore".
Se estivesse vivo, Chico Xavier estaria, com certeza absoluta, apoiando Michel Temer. Para os "espíritas", o lema é "Fica Temer".
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