(Por Demétrio Correia)
Quando o assunto são os fakes mediúnicos, a turma do "não é bem assim", querendo proteger os ídolos do "espiritismo" brasileiro, logo reagem.
"Eu não prefiro dizer que a obra mediúnica é verdadeira ou falsa. Prefiro definir isso como um mistério e apreciar a obra que tiver uma mensagem positiva".
"Que problema tem com a mudança de estilo? Vai ver que o falecido doou seu talento para a caridade".
"O falecido estava tão comovido com as palavras de amor que se esqueceu do seu próprio estilo".
"Ah, tudo é o amor! A linguagem universal do amor! O amor está acima de qualquer questão de estética ou estilo. Somos todos irmãos, não somos?".
São atos de omissão ou negligência que revelam o quanto há consentimento ou apoio a supostas obras "mediúnicas" que não refletem os estilos originais dos falecidos em questão.
Um Humberto de Campos transformado em padre, uma Auta de Souza masculinizada, um Olavo Bilac poeticamente retrocesso.
Ou um Raul Seixas igrejeiro e abobalhado, um Cazuza mais próximo do Sérgio Mallandro que continua entre nós, um Getúlio Vargas que lembra um garoto-propaganda do governo Michel Temer.
Seria ingênuo dizer que são "mudanças naturais" ou que isso é "mistério da espiritualidade".
Que pessoas possam mudar de opinião e de interesse, tudo bem. Mas não dessa forma aberrante.
E o "médium" não é o "Deus absoluto" para que os mortos associados a ele "concordem com ele" em tudo.
Isso seria falta de humildade, da parte dele. Mas também um indício de fraude, porque ele associa os nomes de outrem a seus pensamentos pessoais e os mortos não estão aí para reclamar.
Uma simples análise de conteúdo pode desmascarar obras supostamente mediúnicas.
Não são as semelhanças que indicam autenticidade de uma obra.
Um produto pirata pode ter um maior número de semelhanças com o original, e isso não o faz ser autêntico.
Mas quando há uma diferença, por mais sutil que seja, que se revela comprometedora, a obra dita mediúnica se mostra uma fraude.
Fosse o que fosse o prestígio do "médium" e sua suposta associação à imagem de "caridade" e "amor ao próximo".
Uma única diferença comprometedora derruba centenas de semelhanças identificadas.
Esse critério não vem de gente "inimiga do Espiritismo" e que "sente um profundo ódio ao trabalho do bem".
Esse critério se baseia nos ensinamentos de O Livro dos Médiuns de Allan Kardec, na tradução confiável de José Herculano Pires.
Pelo jeito, é um dos livros muito bajulados e nunca devidamente estudados da literatura kardeciana.
Se fosse devidamente estudado, poderíamos identificar as fraudes na mediunidade sem medo de ameaçar o prestígio do suposto médium.
Isso porque a honestidade está acima de qualquer prestígio social, mesmo o "divinizado".
O prestígio religioso e a imagem de suposto símbolo de caridade não é garantia alguma de honestidade.
Porque essa reputação pode ser uma grande propaganda enganosa.
Os brasileiros deveriam abrir mão das paixões religiosas e ver mesmo quem realmente são seus ídolos da fé cega e deslumbrada, antes de caírem da cama sonhando sobre as nuvens.
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