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"Farinata" agrava crise de João Dória Jr.. E o "espiritismo", vai estar fora disso?

(Por Demétrio Correia)

A repercussão da "farinata" de João Dória Jr. tornou-se bastante negativa.

Agravou a crise que o prefeito de São Paulo já sofria por diversos motivos.

Aumento de acidentes por causa do aumento do padrão mínimo de velocidade.

Moradores de rua acordados com jatos d´água.

Cracolândia reprimida pela violência policial, que só fez o ponto de venda de drogas se deslocar para uma área residencial, ameaçando o sossego e a segurança dos moradores.

Abandono da própria cidade por conta de viagens à toa.

E, em plena decadência, recebeu a solidariedade de, logo quem, Divaldo Franco, que saiu imune por conta do silêncio da imprensa e mesmo da mídia de esquerda.

Foi Divaldo que, como anfitrião do Você e a Paz em São Paulo, ao decidir homenagear o prefeito, deveria também responder como um dos responsáveis pela propaganda do indigesto alimento.

Esse alimento, uma "farinata" de procedência e valor nutritivo duvidosos, causou uma reação negativa de nutricionistas e movimentos sociais.

Estes viam um risco potencial de prejuízos à saúde e já houve denúncia de que, no interior de São Paulo, 14 pacientes de um alojamento religioso que morreram em curto espaço de tempo haviam servido de cobaias para o intragável composto.

E o "espiritismo", vai ficar de fora dessa crise? A resposta é não.

Afinal, João Dória Jr. exibiu o tempo todo a camiseta do Você e a Paz.

Aquilo tinha um propósito. Dória não é um zé-mané que veste a camiseta dos Ramones sem saber do que se trata.

Aquela camiseta do Você e a Paz, com o nome de Divaldo Franco creditado, diz muito.

E João Dória Jr. exibiu o tempo todo, quando divulgava o composto alimentar.

Lembremos de Ayrton Senna usando o boné do antigo Banco Nacional. Ele não o utilizava porque o boné era bonito e a logomarca "o maior barato".

Ele estava fazendo propaganda. A imagem do Banco Nacional estava vinculada ao saudoso piloto, que representava a empresa ao fazer aquela campanha de mershandising.

A mesma coisa ocorre com João Dória Jr..

Há um consentimento do próprio Divaldo Franco e seus parceiros do Você e a Paz em ver a imagem do evento e do "médium" exibidos pelo prefeito de São Paulo.

Não é algo casual e o consentimento de Divaldo diz muito, tanto quanto o apoio do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer no apoio à "farinata".

Mas a imprensa, perdendo uma boa oportunidade de "furo" jornalístico ao tentar blindar um "médium espírita", não observou esse mershandising.

Afinal, por que João Dória Jr. não exibiu uma camiseta com o logotipo da Arquidiocese de São Paulo, se só está é reconhecida oficialmente pelo apoio religioso à "farinata"?

Nem essa pergunta foi feita.

Se isso partisse só da mídia mais conservadora e hegemônica, como a Globo, que tem em Divaldo Franco seu protegido, tudo bem.

Mas nem a mídia de esquerda, que costuma fazer contraponto à mídia hegemônica e em muitos momentos não teme derrubar totens sagrados da sociedade (como os atletas olímpicos que apoiaram Aécio Neves, por exemplo), rompeu esse silêncio sobre o apoio de um "médium".

A Carta Capital, por exemplo, com uma coluna sobre fé religiosa, se limitou apenas a criticar dom Odilo Scherer, se omitindo completamente sobre Divaldo Franco.

Ora, vejamos. Divaldo é responsável também pela propaganda da "farinata", porque decidiu homenagear o prefeito, mesmo estando ele sob desgaste público, e permitiu que ele lançasse o alimento.

Antes que denúncias viessem, Divaldo consentiu que "toda forma de matar a fome dos necessitados era válida", mesmo que seja um composto que mais parecia comida para cachorro.

Divaldo se responsabilizou por dois erros graves. 

Um, de fazer homenagem a um político em franca (olha o trocadilho) decadência, hostilizado até por parte da sociedade que o apoiou e elegeu.

Outro, porque deixou que o prefeito lançasse um programa alimentar duvidoso, sem observar bem do que se tratava.

Pouco importa se Divaldo, aos 90 anos, não pode ser questionado ou investigado. Paulo Maluf e José Sarney estão perto dessa idade e nem por isso deixam de ser alvo de notícias bastante incômodas.

Em troca de quê a mídia tenta blindar um ídolo religioso, que o próprio jornalista espírita José Herculano Pires, no passado, definiu abertamente como "impostor"?

Será que nossos jornalistas continuam acreditando em contos de fadas, que nossa imprensa, mesmo a de esquerda, "não acredita em fadas, mas que elas existem, existem", e as "fadas" são os "médiuns espíritas"?

Ninguém está acima do mundo. Ninguém está acima da humanidade, da ética, da lógica e do bom senso.

Acreditar que uma parcela de pessoas, como os "médiuns espíritas", podem estar acima da lógica, do bom senso e da ética, é muito preocupante.

E o silêncio da imprensa em torno do envolvimento de Divaldo Franco no caso da "farinata" é um silêncio cúmplice, que nivela até mesmo a imprensa de esquerda à omissão habitual da Globo, Folha, Abril etc.

E se João Dória Jr. saiu dessa mais decadente e desgastado que antes, o "espiritismo" brasileiro, queiram ou não queiram os complacentes jornalistas, também saiu muito "queimado".

Divaldo Franco carregava a fama de "sábio", "ativista" e "líder" e poderia ter evitado tudo isso e dito para João Dória Jr. que fizesse propaganda de um alimento desconhecido no seu gabinete, sem botar o Você e a Paz junto.

Se Divaldo não fez isso e nem resolveu processar João Dória Jr. pelo uso da imagem do Você e a Paz, então o evento também acaba sendo responsável pelo episódio incômodo.

É questão de propaganda e publicidade. João Dória Jr. não exibiu a camiseta do Você e a Paz porque era a única camiseta branca disponível para alguém que só usa terno e camisa de colarinho.

Aquilo foi um compromisso de propaganda. E a responsabilidade de João Dória Jr. puxa o Você e a Paz e Divaldo Franco para o vínculo ideológico com o prefeito da capital paulista.

E o consentimento do evento e do "médium" também representa o vínculo a Dória e sua "farinata".

São coisas ligadas, como um nó. Mas esse nó, apesar de difícil de se desatar, foi ignorado pela imprensa em completo silêncio, para blindar um "médium" com voz de padre e discurso verborrágico de palavras açucaradas.

Só que a decadência de João Dória Jr. puxa quem estiver envolvido no caso da "farinata".

Cai o prefeito, cai o arcebispo, mas cai também o "médium" e o "espiritismo" brasileiro.

E, com o silêncio que fala muito para todos nós, cai também a imprensa complacente, incluindo a mídia de esquerda, que perdeu a chance de dar um bom "furo", pela complacência dada a um "adorável" ídolo religioso.

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