(Por Demétrio Correia)
O "espiritismo" brasileiro peca pela desonestidade doutrinária.
Se compromete, em tese a adaptar os conceitos kardecianos ao contexto brasileiro, mas nem de longe cumpre essa promessa.
Pelo contrário, o que vemos é cada vez mais a ressurreição do antigo Catolicismo jesuíta do período colonial, agora sob novo rótulo.
Virou um "outro Catolicismo", só que mais antiquado e retrógrado que o original.
O que é mais grave é que tudo isso é feito escancaradamente, mas no discurso se fala em "outra atitude".
O discurso é só maravilhas: "espiritismo progressista", "ação equilibrada entre Fé e Ciência", "esperança de um mundo melhor", "certeza de transformações profundas para a sociedade".
Só que essa fachada "progressista" e "futurista" cai na apresentação de ideias e práticas.
Os "espíritas" mais destacados aparecem ao lado de personalidades políticas retrógradas: Michel Temer, João Dória Jr., ACM Neto, Aécio Neves.
Depois os "espíritas" dizem que são "progressistas".
De vez em quando eles puxam o saco de personalidades de esquerda: de Lula a Dom Paulo Evaristo Arns, passando por pessoas como o educador Paulo Freire e o político Getúlio Vargas.
Quanta cara-de-pau. Os "líderes espíritas" falam que "são fraternos" e "acolhem como irmãos" pessoas de todo tipo de ideologia.
Mas, em dado momento, tropeçam, quando dizem que "mantém toda a consideração até para os ditadores de esquerda que escravizam o povo da América Latina".
E as esquerdas babando de amores para certos "médiuns espíritas", cujos erros graves recebem vista grossa até da chamada mídia alternativa.
Os "espíritas" são dissimulados.
Traem a herança de Allan Kardec o tempo inteiro, veiculando ideias que causariam arrepio e indignação no Codificador.
Mas juram que exercem "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" ao pedagogo de Lyon.
Quanta hipocrisia! A dissimulação é a pior das mentiras, por tentar misturar, no discurso, mentiras, verdades e meias-verdades.
O uso da "caridade" como cortina de fumaça para a deturpação do Espiritismo é uma prática leviana, mas no país desinformado e complacente que é o Brasil, tudo é aceito sem questionamento.
Como os "espíritas", sobretudo os ditos "médiuns", vivem do malabarismo discursivo e dos apelos emocionais mais atraentes, ninguém se encoraja em questioná-los.
Primeiro, porque acham que os "espíritas" são tomados de uma suposta aura superior e de um despretensiosismo pessoal em diversos sentidos.
Segundo, porque acham que eles, associados a imagens "agradáveis", não podem ser alvo de questionamentos severos.
Há aspectos sombrios envolvendo os "médiuns", como fraudes "psicográficas" e defesas de valores reacionários, mas as pessoas preferem deixar isso no âmbito da dúvida.
Se baseiam no mito dos contos de fadas em que é impossível as fadas-madrinhas se aliarem à bruxa malvada.
Mas "médiuns espíritas", as "fadas-madrinhas" da vida real, se aliam com gosto às "bruxas malvadas" da realidade concreta.
Aliás, no caso de Michel Temer, a "bruxa malvada" é um "vampiro" político que suga o dinheiro público para atender aos interesses dele e de outros ricos.
Querer supor que a aliança dos "espíritas" a esses políticos é "coincidência" porque, em tese, não se mistura política com religião, é uma grande ingenuidade.
O "espiritismo" se revela conservador, catolicizado, voltado ao passado do catecismo jesuíta.
Até a promessa de "recuperar as bases originais" veio com o verbo "kardequizar", que mais parece uma corruptela de "catequizar".
Uma "vaticanização" do Espiritismo sob o verniz do "kardecismo de verdade".
É tanta dissimulação, são tantas as psicografias fake que mais parecem mershandising religioso do que amostras da vida espiritual, que colocam o "espiritismo" em situação pior diante das demais religiões.
A mania de complacência, de relativismo e de desinformação fazem com que as pessoas fiquem na zona de conforto da credulidade.
Há famílias que acreditam piamente em falsas psicografias atribuídas aos entes queridos mortos.
Deve ser porque essas famílias nunca conheceram profundamente quem foram aquelas pessoas queridas que morreram.
Isso garante a imunidade de "médiuns" que fazem tudo errado e se escondem sob o apelo tendencioso da "filantropia".
Eles se beneficiam do desconhecimento de muitos. Daí muitas mentiras "espíritas" que permanecem como "verdades indiscutíveis".
Se as pessoas fossem bem mais informadas, a dissimulação dos "espíritas" não surtiria efeito.
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