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Apoio de Divaldo Franco à "farinata" vai contra princípios de Allan Kardec

(Por Demétrio Correia)

Até pouco tempo atrás, Divaldo Franco era um verossímil figurão do "espiritismo" brasileiro.

Com ares professorais e alegações pretensamente "científicas" em sua oratória, ele poderia se passar por um "kardeciano autêntico".

Muitos o viam como um aparente conhecedor de fatos científicos, políticos, culturais, morais e místicos.

Viam-no como um "profeta", um "sábio" que tinha as respostas para tudo na ponta da língua.

Daí muitos se animavam em acreditar que, numa hipotética recuperação das bases kardecianas, a obra de Divaldo Franco fosse melhor aproveitada que a de Francisco Cândido Xavier.

De fato, Divaldo Franco é mais verossímil como "espírita" do que Chico Xavier.

Mas isso não quer dizer que Divaldo seja um espírita autêntico. Ele é tão bastardo quanto havia sido seu colega mineiro.

Uma das muitas provas de que Divaldo Franco não é um seguidor do legado kardeciano veio à tona recentemente.

A do apoio, nunca reportado pela imprensa, nem mesmo a da esquerda, que o "médium" deu ao complexo alimentar de João Dória Jr. no evento Você e a Paz.

Nenhum jornalista se deu conta do vínculo de imagem da camiseta de Dória, com o logotipo do evento e o nome de Divaldo Franco creditados.

Da mesma forma, ninguém notou que a "farinata", condenada pelas mais conceituadas entidades de saúde pública e nutrição e pelos movimentos sociais - que consideram desumano o projeto de Dória, comparável ao de uma "comida para cachorro" - , foi oficialmente lançada no Você e a Paz.

Divaldo aceitou todo risco de permitir que uma "comida estragada" fosse divulgada.

E sua conduta, ainda que haja todo o pedido de desculpas, já se revelou anti-kardeciana.

Lembremos aos brasileiros da trajetória de Allan Kardec, que primava pela coerência, pela observação rigorosa e pelo esforço em evitar cometer graves erros.

Era da natureza do pedagogo francês verificar as coisas antes de tudo.

Ele rejeitou muitas mensagens trazidas por diversos médiuns (Kardec não era paranormal, vale lembrar) por identificar nelas pontos duvidosos que não garantam veracidade das autorias alegadas.

Era próprio de Kardec pedir o exame rigoroso das coisas, antes de adotar qualquer procedimento.

Se o pedagogo francês comandasse um evento e outra pessoa dissesse que queria divulgar um novo alimento na ocasião, evidentemente Kardec não aceitaria de pronto.

"Primeiro é necessário que esse alimento venha acompanhado de rigoroso exame e comprovação documental de que ele não é prejudicial à saúde", recomendaria o professor francês.

A homenagem ao indivíduo que fosse lançar o alimento seria cancelada por Kardec se caso o produto não apresentasse as provas necessárias.

O pedagogo francês também não aceitaria que o indivíduo exibisse alguma camiseta ou adereço que vinculassem o professor e seu evento à imagem pessoal do visitante e seu "composto alimentar".

Em Divaldo, faltou esse rigor verificatório daquele que o "médium" alega ser "seu mestre".

Pior: a "farinata" de Dória já começava a ser denunciada antes do Você e a Paz.

E, mesmo que não fosse, seria dever do "médium" ter cautela com o projeto, mesmo com todo o apreço por João Dória Jr..

Divaldo pediria, neste caso, os documentos e a prova do exame de que o produto não seria prejudicial à saúde.

Mas nada fez e deixou que o indigesto alimento fosse lançado oficialmente no evento "espírita".

Não fosse o silêncio da imprensa, isso teria causado um escândalo de grandes proporções.

Por sorte, os "médiuns" são blindados. Muito blindados.

Tão blindados que, em relação ao escritor Humberto de Campos, atualmente estão no mercado as obras fake que supostamente atribuem ao seu espírito desencarnado.

As obras originais é que saíram de catálogo. As edições mais recentes remetem a 2014 em um volume especial, para colecionadores, com preço muitíssimo caro.

Tudo para proteger um "médium", no caso Chico Xavier, de ser desqualificado numa leitura comparatória.

Afinal, as obras "espirituais" de Humberto quase nada lembram o estilo original do autor, e, se há alguma semelhança, ela mais parece uma paródia.

Fazer o quê? "Médium espírita", no Brasil, já é mais blindado que político do PSDB. "Só espirre, tá, que não cai".

E ainda tem gente que vai continuar acreditando que Divaldo Franco é discípulo de Allan Kardec. Pode isso? Não, não pode.

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