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Luciano Huck dá uma ideia do que é a "caridade espírita"

(Por Demétrio Correia)

O que é caridade? É o ato de ajudar alguma pessoa de qualquer forma, certo?

Correto, mas existem casos em que a caridade, quando definida em grande espécie, como projetos filantrópicos de grande envergadura, nunca deve ser vista de maneira superficial e rasteira.

Quando um ídolo religioso aparenta desempenhar atividades religiosas, a atitude que temos que tomar é de muita cautela.

Não é para sair festejando por aí sem observar direito as coisas.

Afinal, o valor da festa não está no anfitrião em si, mas nos resultados dos festejos.

Muitos não conseguem entender por que criticamos a "caridade" promovida pelos "médiuns espíritas".

Eles são uma aberração, em si, porque vivem do culto à personalidade que são impróprios à função original do médium.

Os "médiuns" brasileiros também estão associados a práticas, decisões e ideias que Allan Kardec havia reprovado em O Livro dos Médiuns.

Textos rebuscados, uso indébito de nomes ilustres de personalidades falecidas, apelos emocionais como as tais "palavras de amor".

Tudo isso foi reprovado por Allan Kardec, mas é praticado abertamente pelos "médiuns" e, infelizmente, apoiado ampla e abertamente pela sociedade.

Pior. Os "médiuns" brasileiros, que claramente empastelam o legado kardeciano, são aceitos pela pretensa ressalva de que eles "praticam a caridade".

Será que os "médiuns" praticam mesmo caridade?

"Ah, sim, praticam, eles ajudam muita gente, vidas foram transformadas", é o que frequentemente se ouve e lê por aí.

Só que essa "caridade" não trouxe resultados profundos nem definitivos e a tal "transformação de vidas" não passa de conversa para boi dormir.

Para agravar as coisas, uma "caridade" de Francisco Cândido Xavier revelou-se, em verdade, uma grande e terrível perversidade.

É o caso das "cartas" dos entes queridos mortos.

Além das supostas "cartas espirituais" serem fake, elas envolvem um processo perverso de promoção de sensacionalismo às custas da exploração das tragédias familiares.

A crueldade está no fato dela prolongar os efeitos dessas tragédias, mesmo sob a suposição de que os mortos "mandaram mensagem", em vez de deixar o luto se dissolver brevemente na privacidade.

Tudo virou ostentação, sensacionalismo, misticismo barato, charlatanismo.

Em muitos casos, a caligrafia de Chico Xavier era reconhecida na suposta carta de um espírito morto, em vez da caligrafia pessoal do referido falecido.

Mas a "caridade" mais comum, que é a de promover donativos ou cuidar de pobres e doentes, também é fraca.

São atos de Assistencialismo, em que as caridades são meramente pontuais e momentâneas.

Não são projetos de transformação como tanto se alardeia por aí. Não são projetos de Assistência Social, como tanto falam os "espíritas".

Há uma diferença entre Assistência Social e Assistencialismo, vale lembrar.

A Assistência Social "cura a doença" da pobreza. O Assistencialismo só "alivia suas dores" sem obter a "cura".

Se houvesse, da parte dos "espíritas", os efeitos da Assistência Social, o Brasil estaria numa situação muito diferente da de hoje, atingindo níveis escandinavos de vida.

Não foi isso que aconteceu. A "caridade" dos "espíritas" foi apenas conversa para boi dormir, se limitando apenas a poucas ações de caráter pontual.

Há casos em que os donativos se esgotam nas mãos dos pobres, depois de um evento filantrópico de uma festejada instituição "espírita".

Mas essa instituição continua comemorando e festejando a "caridade" que já murchou nas vidas dos pobres, que voltaram à situação degradante anterior.

O caso de Luciano Huck e seus quadros "sociais" no Caldeirão do Huck, na Rede Globo, explicam o que é realmente a "caridade espírita".

O próprio Huck é seguidor assumido de Chico Xavier. Já foi ver o filme biográfico do "médium" com sua esposa Angélica, em 2010. E visitou Pedro Leopoldo, terra natal de Xavier, para gravar o quadro Lata Velha.

A "caridade" de Huck é um espetáculo de Assistencialismo, que claramente só repercute dentro de seu programa.

Os resultados sociais não se expandem para fora do espetáculo televisivo, e há rumores de que os resultados são muito fracos e menos justos do que o programa apresenta.

Mas isso ensina a muita gente sobre o que é o Assistencialismo, a "caridade" que serve mais de propaganda para o "benfeitor".

E é essa "caridade" que fez a promoção pessoal de Chico Xavier, Divaldo Franco, João de Deus e o que vier de "médium" ou "palestrante espírita".

Mesmo quando há projetos mais "efetivos", como o projeto educacional da Mansão do Caminho - nada muito diferente do que propõe a conservadora Escola Sem Partido - , os resultados são medíocres.

A pessoa se torna apenas um cidadão "correto", mas medíocre, e aprende a ler, escrever e trabalhar, mas sob o preço do proselitismo religioso.

Em tese, o cidadão não é obrigado a seguir uma religião, mas, movido pelo prestígio e pela "caridade" de Divaldo Franco, ele terá que acreditar em bobagens como as "crianças-índigo".

Em instituições desse tipo, a "marca" ideológica do "benfeitor" se sobrepõe ao projeto educacional, que não é feito tão de graça quanto se supõe.

O projeto é gratuito, no sentido financeiro da coisa, mas tem o preço de seguir uma crença religiosa.

Fala-se em "liberdade de crença", como, por exemplo, "permitir" que um evangélico seja educado na Mansão do Caminho e continue sendo evangélico.

Mas sutilmente se empenha para influenciar a pessoa, nada é feito de graça. Não existe almoço grátis, como disse o economista conservador Milton Friedman.

O programa Caldeirão do Huck é um exemplo didático de como existe a "caridade paliativa", que pouco ajuda e só serve para projetar o nome do "benfeitor".

Os "médiuns" cometem traições graves em relação aos ensinamentos espíritas originais, e por isso precisam do Assistencialismo para promover suas imagens pessoais.

Precisam se promover às custas da sopinha concedida aos pobres, da doação de objetos e mantimentos, da educação que esconde, sutilmente, um proselitismo religioso etc.

E se colocam acima dos necessitados, mesmo quando os resultados são ínfimos.

Se realmente fosse transformadora, a "caridade" de Chico Xavier, Divaldo Franco, João de Deus e tantos outros teria transformado suas áreas em redutos de profundo desenvolvimento social.

Isso não aconteceu. Pelo contrário, suas áreas se tornaram até mais perigosas e miseráveis do que antes.

Pela grandeza a que se autoproclamam os "médiuns", esperaria que o Brasil, nas mãos deles, tivesse virado um país de alto desenvolvimento econômico e social. 

Não tem escapatória: caridade é qualidade de vida, não há como dissociar desenvolvimento sócio-econômico e filantropia.

Se os resultados obtidos são superficiais e medíocres, é sinal que a "caridade" dos "médiuns" falhou e só resultou mesmo na promoção pessoal dos mesmos.

É isso que nos ensina, no seu lamentável exemplo, o potencial presidenciável Huck: uma "caridade" que ajuda mais o "benfeitor" em sua promoção pessoal do que os mais necessitados, cujo sofrimento, longe de ser eliminado, é apenas precariamente reduzido.

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