(Por Demétrio Correia)
O "espiritismo" brasileiro ainda insiste na tese do "gado expiatório", que estabelece um mesmo fim para tragédias que atingem várias pessoas.
São teses derivadas do conceito que os "espíritas" acreditam sobre "resgates coletivos": diferentes pessoas "se unem" num mesmo evento trágico porque "pagam juntas" um mesmo destino.
Isso é um grande absurdo.
Mas o absurdo é mais uma vez reeditado pelo periódico "Correio Espírita", que circula nas bancas do Rio de Janeiro.
A manchete "Diante das tragédias, o que dizer?" é descrito o seguinte trecho:
"A Doutrina Espírita enfatiza que Deus não nos julga nem nos castiga. Em realidade, não existe o acaso. As tragédias, levando às desencarnações coletivas, não são casuais", apresenta o texto.
Só que essa atribuição à Doutrina Espírita é falsa. E vai contra a lógica e o bom senso.
Em primeiro lugar, porque pode-se morrer por desatenção, contrariando a tendência vital. Pode-se morrer por acaso, sim.
Ora, se alguém escorrega numa casca de banana, bate com a cabeça no chão, sofre traumatismo craniano e morre, isso estava "assinado" no destino do indivíduo? É difícil que sim.
E, quanto aos "resgates coletivos"?
Para dar um exemplo, citemos pessoas que, digamos, estão formando uma fila de emprego num mercado da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
É madrugada, ainda, e, de repente, um pistoleiro surge e metralha uma parte daquele grupo na fila, matando um número considerável de pessoas. Digamos, umas doze.
Será que essas doze pessoas, que nada têm a ver umas com as outras, tiveram um "destino comum" e uma "missão expiatória" única, só por causa daquela tragédia?
É claro que não.
Só se houver algum grupo de amigos na ocasião, pode-se admitir que eles estivessem tendo uma sina em comum, mas nada impede que, mesmo nesses casos, as tragédias remetam a casos individuais.
Errou, portanto, o "Correio Espírita", no seu julgamento moralista, aliás, próprio do "espiritismo" brasileiro igrejista.
Além disso, a tese dos "resgates coletivos" remete a Jean-Baptiste Roustaing e não a Allan Kardec.
As punições coletivas eram um princípio do punitivismo do livro Os Quatro Evangelhos.
O próprio "Correio Espírita" se contradisse: se "Deus não julga nem castiga", por que então os "resgates coletivos"?
Se alguém pode cometer uma desatenção ou descuido na vida, também se pode morrer por desatenção ou descuido.
Nem sempre tendo a ver com um "pagamento" de algum ato infeliz em alguma vida passada.
Da mesma forma, não há como juntar multidões num "gado expiatório" a ponto de supor que até pessoas estranhas entre si, quando morrem juntas, é porque "pagam" uma única sentença.
Isso não existe. Nota zero para a avaliação moralista dos "espíritas".
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