(Por Demétrio Correia)
Se a imprensa progressista não analisou o caso Divaldo Franco-farinata, não foi por falta de dados.
A participação do Você e a Paz como evento no qual o duvidoso alimento de João Dória Jr. lançou é explícita.
Não é algo trazido por um "inimigo do Espiritismo", como tentam argumentar os "espíritas".
Não foi ato de intolerância religiosa, mas um alerta urgente sobre uma decisão feita por um "médium".
Até hoje falamos da "farinata" porque foi um episódio muito grave, embora mais grave fosse o silêncio da imprensa em relação ao assunto.
"Lançamos o programa Alimento para Todos durante o evento "Você e a Paz" onde tive o privilegio de ser o homenageado", disse o prefeito de São Paulo.
Pior: Dória colocou como palavra-chave (hashtag, precedida por um sustenido, "#") o programa AceleraSP, que no trânsito causou várias mortes, com o aumento do limite de velocidade dos veículos nas avenidas marginais da capital paulista.
No vídeo do lançamento da "farinata", Dória começa fazendo uma declaração que parece positiva, mas é tudo fantasia.
"Este é o Alimento para Todos. Aqui você tem alimentos que estariam sendo jogados no lixo e que serão reaproveitados com toda a segurança alimentar. São reutilizados e transformados em alimento completo em proteínas, vitaminas e sais minerais. E, a partir deste mês de outubro, começa a sua distribuição gradual por várias entidades do terceiro setor, igrejas, templos, sociedade civil organizada, além da prefeitura de São Paulo, para oferecer às pessoas que têm fome. Em São Paulo, inicialmente. Depois, em todo o Brasil. Este é um produto abençoado".
Em seguida, ocorrem cenas do prefeito oferecendo o produto aos presentes. Evidentemente a amostra é "mais agradável" do que o produto que normalmente será (ou seria, devido a má repercussão do composto alimentar, feito a partir de restos de comida "aproveitáveis") oferecido ao povo pobre.
No vídeo, aparecem ainda algumas imagens sem movimento, das quais algumas delas mostram o prefeito ao lado do "médium" Divaldo Franco.
A camiseta do Você e a Paz e o nome de Divaldo Franco indicam claramente vínculo de imagem com a "farinata", o que é muito grave.
Isso não é alegação de "inimigo do Espiritismo". É uma regra da Publicidade e Propaganda, quando o uso de objetos apresentando marca do evento e nome de algum envolvido expressam, de forma explícita, vinculo de imagem e associação a quem os exibe.
Por exemplo, se o jogador Neymar (foto) exibe os logotipos da Nike, da Vivo, do Itaú e do Guaraná Antarctica, não faz isso porque acha as marcas bonitinhas e alegres, mas há um propósito de vínculo de imagem com esses anunciantes.
Afinal, o alimento, definido como "ração humana", já havia sido previamente condenado por entidades de nutrição e saúde públicas, e se o Você e a Paz deu espaço para divulgação da "farinata", o evento e Divaldo Franco assumiram responsabilidade por isso.
E como Divaldo não reagiu contra a atitude de João Dória Jr. de usar o evento para divulgar a "farinata", o "médium" consentiu e fica incluído como apoiador do produto, tanto quanto o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer.
Portanto, são decisões muito delicadas e arriscadas. Divaldo assumiu o risco que pôs sua reputação a perder.
Sentimos muito aos divaldistas diante disso, mas aqui não cabe retratação. Divaldo perdeu uma oportunidade de cancelar a homenagem, se ao menos quisesse salvar sua reputação.
Mas Divaldo Franco já havia feito declarações contra refugiados do Oriente Médio que soam ofensivas e podem até sugerir intolerância religiosa aos muçulmanos.
Sem provas consistentes e tomado de pleno juízo de valor, o "médium" acusou os refugiados de serem reencarnação de "antigos tiranos colonizadores", contrariando o princípio kardeciano de esquecimento de vidas passadas.
Pior: Divaldo ainda alegou que os refugiados queriam voltar para a Europa para "recuperar os antigos tesouros do velho continente".
Imagine se alguns desses refugiados, que só vão para a Europa porque têm mais chance de encontrar lugares pacíficos para morar, ouvissem uma declaração dessas.
Eles se uniriam para fazer uma "vaquinha" e contratar um advogado e processar o "médium" por danos morais.
E como é que fica um "médium" que, tido como "maior filantropo do Brasil" sem ajudar 01% da população do país, ofender, mesmo "sem querer", milhares e milhares de pessoas?
Isso não é intolerância religiosa. Paciência. Não se pode usar o prestígio religioso para fazer o que quer e não assumir responsabilidade por isso.
Gozar da blindagem da mídia também não significa dispensa de responsabilidade. Se um "médium", por mais badalado que seja, comete uma decisão gravemente errada, terá que arcar com seus efeitos.
Se ele seguiu ou não intuição de algum "obsessor", isso também não isenta de responsabilidade, porque o "médium" também aceitou essa má intuição.
No caso da "farinata", o consentimento de Divaldo e seu evento para a divulgação do produto, sem qualquer verificação prévia, já diz muito sobre essa responsabilidade. E que pode agravar a crise vivida pelo "movimento espírita" no Brasil.
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