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Confusão, coitadismo e incoerência em Chico Xavier

(Por Demétrio Correia)

Muitos se esquecem que, onde tem confusão, a coerência nunca encontra morada.

O caso dos "médiuns espíritas", envoltos em muita confusão e incidentes dos mais vergonhosos, não pode ser visto da mesma forma que se vê a vida de Jesus Cristo.

Afinal, sabe-se que a vida de Jesus Cristo havia sido de coerência e simplicidade, na qual as adversidades vinham de tiranos declarados, que mandavam no Império Romano.

Os "médiuns espíritas", não. A trajetória deles é marcada de muita confusão, atos equivocados e muitas "aventuras" que fazem com que os próprios "médiuns" sejam, ou pelo menos devessem ser, os responsáveis e culpados pelos próprios erros.

Quem os questionava e reprovava não eram pessoas tirânicas ou intolerantes, mas pessoas que cobravam coerência dos fatos.

As "aventuras" literárias de Chico Xavier, que numa grande pegadinha para a humanidade planetária, inventou que publicava obras ditadas por espíritos de grandes literatos, é que são um grave e preocupante equívoco.

Têm muita razão os críticos literários que se irritaram com falhas estilísticas apontadas, por uma leitura mais atenta, em obras como Parnaso de Além-Túmulo e aquelas que usavam o nome de Humberto de Campos.

Sim, porque um ídolo religioso não pode estar acima de tudo. Nem acima da ética, da coerência, da lógica e do bom senso.

Se tivéssemos que colocar um ídolo religioso acima de tudo isso, sob a desculpa de que "há mistérios que desafiam a própria razão", estaríamos fazendo o papel de completos idiotas.

O que vemos é que essa "literatura elevada" de Chico Xavier foi uma fraude, e ele certamente seria incapaz de fazer a fraude sozinho.

Mas, também, isso não explica a "possível autenticidade" das obras tidas como "mediúnicas".

Muito pelo contrário. Falhas estilísticas grotescas continuam aparecendo, como uma Auta de Souza que não é sequer sombra do estilo pessoal da poetisa potiguar.

Como explicar um Olavo Bilac tropeçando na métrica dos versos, se nos recusamos a dizer que isso havia sido uma fraude?

O mistério é revelado quando se sabe que, além de Chico Xavier, havia outros colaboradores para a literatura fake atribuída ao além.

Não gente do outro mundo, mas gente viva, nos tempos do "médium": Antônio Wantuil de Freitas, Waldo Vieira, jornalistas da revista Reformador, consultores literários.

O próprio Chico Xavier deixou isso vazar, numa carta divulgada não por seus detratores, mas por uma "médium" solidária, Suely Caldas Schubert, meio "sem querer", como num "fogo amigo'.

Chico escreveu para Wantuil dizendo que não tinha tempo para "fazer as revisões detalhadas" da sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo.

Ele agradeceu a Wantuil e Porto Carreiro (o editor da FEB, Luís da Costa Porto Carreiro Neto), pelos trabalhos de revisão do livro poético.

Embora Chico citasse "autores espirituais", nota-se que a fraude foi desmascarada, e que as "psicografias" não eram forjadas pelo "médium" sozinho, mas com ajuda de gente aqui da Terra.

Isso confirmou as "acusações inconcebíveis" dadas por Alceu Amoroso Lima, um militante católico conservador.

Ele disse que Parnaso de Além-Túmulo era obra de "editores da FEB".

Uma ironia do destino acabou dando vantagem a Alceu Amoroso Lima (também conhecido pelo pseudônimo Tristão de Athayde), mas Chico levou pontos por ter sido festejado ídolo religioso blindado pela grande mídia.

Em 1964, tanto Chico Xavier quanto Alceu Amoroso Lima defenderam o golpe militar de 1964.

Mas Alceu se desiludiu e passou a se opor ao regime militar, que a partir de 1969 entrou em sua fase mais violenta.

Chico não, permanecendo defensor da ditadura militar em 1971, conforme comprovam os depoimentos que o "médium" deu a milhares de espectadores no Pinga Fogo, da TV Tupi paulista.

É constrangedor que Chico acabou levando a fama de "progressista", assim de graça, só porque era um ídolo religioso.

Há pessoas conservadoras que, todavia, soam mais progressistas e humanistas do que Chico ou qualquer outro "médium espírita".

Chico apenas usou de seu coitadismo, de sua pose vitimista, para levar vantagem diante de tanta confusão que ele mesmo causou.

Livrou-se até mesmo de ser considerado cúmplice da farsa de Otília Diogo, que, desmascarada, teve que pagar o preço de seu crime sozinha.

Mas, em outro "fogo amigo", o fotógrafo Nedyr Mendes da Rocha, ligado a Otília mas solidário a Chico Xavier, fez registros nos bastidores da fraude.

Ele mostrava Chico muito comunicativo e alegre, demonstrando atenção a tudo, o que derruba de vez a tese de que ele havia sido enganado por Otília.

Uma das fotos mostra Chico vendo a gaiola armada para o espetáculo ilusionista de Otília Diogo.

Chico também havia acompanhado outras fraudes, inclusive um suposto Emmanuel, em 1954, cujo "corpo materializado" não passava de uma maquete do Cristo Redentor com uma colagem com o rosto desenhado do "mentor" do "médium".

Um locutor em off teria feito a voz de Emmanuel "aconselhando" Chico a desistir da "materialização".

Chico não obedeceu, mas sabe-se que o recado foi feito temendo o que ocorreu com Otília, anos depois.

Diante de tudo isso, e o famoso julgamento do caso Humberto de Campos, foi Chico Xavier o culpado de tamanhas confusões.

Daí as comparações que o fazem um Aécio Neves da religião.

Só porque é um ídolo religioso, isso não significa que ele esteja imune dos efeitos das confusões que causou.

Neste caso, diferente do que aconteceu com Jesus e Allan Kardec, estes com trajetória marcada de muita coerência e limpidez, foi o "médium" responsável pelas confusões e rejeições que sofreu.

A religião não pode ser usada para permitir que se faça confusão e se use do vitimismo para se livrar da culpa.

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