(Por Demétrio Correia)
O status de "bondade" atribuído ao "médium" Francisco Cândido Xavier é espontâneo e foi desenvolvido com naturalidade?
Você jura que sim. Mas a resposta é não.
Não mesmo.
Ele é mais um exemplo de como a máquina manipuladora da Rede Globo pode inserir valores tidos como "naturais".
Chico Xavier já foi um mito trabalhado antes pela FEB, mas de maneira confusa, sensacionalista e vulnerável a escândalos.
E criava uma relação midiática estranha, que se deu até 1970.
Os Diários Associados eram a vitrine de Chico Xavier, mas enquanto a revista O Cruzeiro o abordava de maneira cética ou questionadora, cabia à TV Tupi blindar o anti-médium de Minas Gerais.
Não é preciso muito esforço para ver que o produtor Humberto de Campos Filho, da TV Tupi, acabou sendo complacente com Chico Xavier.
Ele era filho do renomado escritor maranhense, lesado pelos pastiches traiçoeiros de Chico Xavier.
Mas como Chico Xavier era um produto rentável para a FEB, e se criou, na TV Tupi, um lobby de atores, diretores e produtores de TV que endeusavam o "médium", o filho de Humberto de Campos teve que ceder.
E aí foi convidado a uma visita que teve doutrinária e demonstração de assistencialismo.
Poucos imaginam que o assistencialismo é uma manobra de legitimação de deturpadores da Doutrina Espírita.
A deturpação da Doutrina Espírita, no Brasil, possui certas prerrogativas.
O assistencialismo é normalmente considerado prática perversa, hipócrita e oportunista quando associado a pessoas de quase toda natureza, sobretudo políticos em campanha eleitoral.
O assistencialismo, quando atribuído a ídolos "espíritas", garante um status quase divino, associado a um suposto conceito de "bondade plena" e "dedicação integral de amor ao próximo".
O apelo à emoção (Argumentum Ad Passiones) é normalmente considerado uma falácia, sendo uma das estratégias do coitadismo ou vitimismo, na tentativa de salvar a reputação de pessoas reconhecidas como deploráveis.
No "espiritismo", o Ad Passiones é feito para salvar os ídolos "espíritas" do descrédito motivado por críticas e questionamentos severos, mesmo com provas documentais.
O "espiritismo" é o paraíso da complacência ao erro, que permite que mistificadores e deturpadores usem a "bondade" como escudo para suas práticas irregulares.
E o apoio da grande mídia na construção desse discurso de "bondade" surte efeito.
Com algumas estratégias de marketing e uma narrativa que parece com reportagem, mas soa como uma dramatização, garantem o apoio incondicional de pessoas deslumbradas.
É um discurso que arranca fácil lágrimas das pessoas, mais do que empurrar uma criança pequena ou um bebê contra o chão.
As pessoas ficam iludidas com uma "bondade" que soa como um conto de fadas.
Mas é uma "bondade" que não traz benefícios concretos, definitivos e amplos para as pessoas.
Até quando se fala em "beneficiar milhões" ou "ajudar muita gente", são especulações, alegações movidas pela emoção, não havendo dados concretos ou, quando se chega a isso, se mostram dados medíocres e resultados inexpressivos.
Calculou-se que os benefícios de Divaldo Franco na Mansão do Caminho, no perigoso bairro de Pau da Lima, em Salvador, foram muito fracos para lhe garantir o título de "maior filantropo do país".
A porcentagem é ínfima: em 65 anos, a Mansão do Caminho só beneficiou menos de 1% da população de Salvador.
Em níveis nacionais, então, faz o título de "maior filantropo do país" dado a Divaldo Franco parecer uma grande piada.
E isso mostra a farsa desse discurso de "bondade" que tanta gente adora sentir pelos ídolos "espíritas" que deturpam o legado de Allan Kardec.
Mostra que essa "bondade" faz muito mais pela vaidade do "benfeitor" do que pelo atendimento às necessidades das pessoas carentes.
É um discurso construído pela mídia.
Não é mera coincidência que a Rede Globo que manipula as pessoas a votar em Fernando Collor ou a odiar Lula é que promova os ídolos "espíritas" e depois os fornece "prontos" para serem compartilhados por outros veículos midiáticos.
A Globo tem a habilidade de manipular as pessoas e lhes dar a impressão de que tudo foi natural e espontâneo.
A gíria "balada", criada por Luciano Huck e difundida também pela reacionária Jovem Pan, foi lançada pela Globo para ser uma "gíria de todos os brasileiros de todos os tempos".
Uma gíria que, à maneira das mensagens maliciosas das camisetas Use Huck, se baseou na gíria das casas noturnas "bala", eufemismo para entorpecentes em forma de comprimidos.
O "funk" também virou a "expressão natural da população pobre" através de um discurso construído pela Globo, embora tendenciosamente empurrado para veículos midiáticos de esquerda.
A Globo é uma fantástica fábrica de consensos, vide o hábito de muitos brasileiros terem sintonizado a emissora em boa parte de suas vidas.
A Globo penetra no inconsciente das pessoas, até em parte de seus opositores, que tudo o que a Globo empurra de valores é visto como "natural".
Daí ser recomendável as pessoas, antes de ficarem defendendo valores e ideias aqui e ali, pensem duas vezes para verificar se o que acreditam e apoiam não o seria sob a influência dessa corporação midiática.
É por isso que essa "naturalização" dos valores impostos pela Globo garantiu a fortuna estratosférica de Roberto Marinho, herdada pelos seus filhos, ainda mais ricos.
Cabe portanto as pessoas verificarem se não há um logotipo da Globo transplantado nos seus corações e cérebros.
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