(Por Demétrio Correia)
Um grande problema foi gerado pelo "espiritismo" brasileiro.
A falta de estudo, dedicação e, sobretudo, respeito ao legado trabalhoso de Allan Kardec permitiu uma série de hipocrisias.
Criou-se um roustanguismo envergonhado, dissimulado, um falso Espiritismo que apela o tempo todo para o bom-mocismo.
Apelos surgem aqui e ali.
"Fulano é deturpador, mas faz caridade", "a mensagem é igrejista, sim, mas traz lições de amor e bondade", "o cara não entendeu Kardec, mas, vejamos, ele promove a paz".
Em primeiro momento, para forçar a aceitação da forma deturpada de Espiritismo, por causa da sua aparente bondade.
Em segundo momento, para tentar atrair o apoio dos que criticam a deturpação da Doutrina Espírita.
Quando grupos se esforçam para recuperar as bases doutrinárias originais, vai um e apela para considerar os "médiuns" dotados de estrelismo, porque "são bondosos".
A falta de firmeza dos que criticam a deturpação acaba aceitando vários deles.
De concessão em concessão, os críticos da deturpação espírita acabam aceitando até as "crianças-índigo", ideia que Allan Kardec EM NENHUM MOMENTO aceitaria como válida.
Alguns até dizem que Kardec aceitaria. Engano. Eles se baseiam num Kardec mal traduzido, transformado num arremedo de sacerdote, um Kardec muito diferente do original.
Claro, criando um Kardec fake ao sabor dos preconceitos igrejistas de certas lideranças "espíritas", é lançado um vale-tudo que transforma a Doutrina Espírita na elegia do fantasma doido.
Desta forma, até dá para citar um Erasto vindo não dos círculos de Paulo de Tarso, mas de alguma feira de produtos piratas.
Um Erasto que finge dizer "mais válido recusar dez verdades do que aceitar uma única mentira", mas que prefere dizer "mais válido aceitar uma grande mentira, desde que visando o pão de alguns pobres".
E é isso que faz com que os fakes do além, trazidos a partir dos primórdios da FEB, mas ampliados por Francisco Cândido Xavier, prevaleçam.
Graças a Chico Xavier, qualquer um com um mínimo de prestígio e alguma casinha convertida em "lar espírita" pode criar um fake e despejar mensagens bonitinhas.
Pegue um pouco de informações na mídia, faça leitura fria com os entes queridos, colhendo informações não só de depoimentos, mas outras, subliminares, de gestos e expressões faciais.
Escreve-se uma mensagem com o próprio punho, com a própria mente, porque é difícil ter a concentração necessária para atrair, de verdade, um mensageiro do além-túmulo.
O jeito é caprichar nas palavras bonitas e alegres e no roteiro infalível: relatar sofrimento pessoal, depois internação em colônia espiritual, superação e, aí, o apelo religioso de "fraternidade cristã".
Beleza. Ninguém desconfia.
Quando alguém apontar irregularidades em dados pessoais e na estilística da mensagem, é só o "médium" mostrar imagens de crianças pobres e velhinhos doentes.
E aí, pronto: a carteirada religiosa funciona. Até os parentes do morto, os primeiros a serem enganados, aceitam o "médium" e consideram a mensagem fake como "autêntica", apenas pelas "belas palavras".
E isso é terrível. Afinal, mensagens assim não podem ser consideradas verídicas só porque são positivas.
O próprio Erasto havia alertado para isso e exigia vigilância ainda maior.
Ele afirmava que era pelas "coisas boas" ditas (podemos também estender para feitas), o mistificador poderia inserir ideias estranhas à lógica da Doutrina Espírita.
Esquecemos que foi justamente isso que Chico Xavier e Divaldo Franco fizeram.
Eles não eram para ter metade da adoração que receberam e que parece inabalável a qualquer "tempestade" que desabar contra os dois "médiuns".
Afinal, por trás da "comovente bondade", os dois despejaram conceitos moralistas retrógrados e bobagens como "colônias espirituais" e "crianças-índigo".
Essas duas ideias, que seriam refutadas de imediato por Allan Kardec, embora evoquem supostos princípios de "amor e bondade", se servem a paixões nada espiritualistas.
Não temos que aceitar a carteirada religiosa para "legitimar" as fraudes e irregularidades que mancham de vergonha a Doutrina Espírita.
Não podemos admitir que "médiuns" dotados de "culto à personalidade" sejam donos da verdade e estejam vinculados a um paradigma de "bondade" que, na prática, só os beneficia.
Daí que abrir mão da paixão religiosa é uma prioridade.
Até para não aceitarmos "médiuns-estrelas" e psicografias fake que transmitem mistificação e inverdades sob o pretexto da "caridade".
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