(Por Demétrio Correia)
O jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (foto) havia dito que "toda unanimidade é burra".
Vivemos numa sociedade complexa e isso faz muito sentido.
Talvez o sentido de validade de uma coisa tenha que envolver não a totalidade de pessoas, mas a maioria esmagadora delas.
Um consenso se forma não necessariamente pela totalidade de apoio, mas pela ampla maioria possível.
Quando se forjam pretensas unanimidades, interesses estão em jogo. Totalitários, absolutistas, monopolistas.
No "espiritismo", o caso do arrivista Francisco Cândido Xavier é ilustrativo.
A memória curta apagou a lembrança de que ele tinha sido um pastichador de livros e um usurpador oportunista de ilustres falecidos e explorador das tragédias alheias.
Ele virou "unanimidade", oficialmente, pelo "trabalho do bem" a que foi oficialmente associado, sem necessidade de haver dados precisos e objetivos, mas pelo apelo à emoção da idolatria religiosa.
Poucos sabem que essa "imagem linda" de Chico Xavier como o "homem chamado Amor" foi construída como uma peça de marketing.
Isso não é invenção de intolerante religioso. Fatos objetivos comprovam isso.
Primeiro, foi a habilidade de Antônio Wantuil de Freitas, que construiu um "popstar" para difundir e popularizar um "espiritismo" deturpado com os ideais de Jean-Baptiste Roustaing.
Nessa época Chico Xavier abrasileirou o roustanguismo, de forma a que, se possível, substituir o próprio Roustaing, considerado "polêmico demais", quando este tivesse que ser descartado.
Segundo, foi a habilidade da Rede Globo de Televisão, que queria um nome "ecumênico" para fazer frente aos pastores neopentecostais que usavam a mídia para atraírem popularidade, como R. R. Soares e Edir Macedo, este mais tarde dono da Rede Record.
A Rede Globo tomou emprestado o roteiro de Malcolm Muggeridge para Madre Teresa de Calcutá e inseriu o marketing da "caridade" para transformar Chico Xavier num "filantropo".
Um discurso que aliciou corações e mentes, e forjou uma "unanimidade" por conta de um modelo de "caridade" que mais deslumbra do que ajuda.
E aí, pronto. Por mais que se multipliquem questionamentos acerca de Chico Xavier, o maior deturpador da Doutrina Espírita, prevalece a visão oficial, contraditória mas agradável.
A de um "médium filantropo" que "entendeu um pouco mal o Espiritismo, mas praticou caridade".
Essa "bondade" é tão "verdadeira" quanto o poder de embranquecimento de um sabão em pó de marca medíocre.
As pessoas não percebem que é uma "bondade" que beneficia muito pouco, que quase nada realiza na superação das desigualdades sociais.
E isso não é por falta de oportunidade, mas por falta de interesse. O próprio "espiritismo" de Chico Xavier apelava para os sofredores aguentarem desgraças e perdoarem os abusos dos algozes.
Isso já impede que boa parte das desigualdades sociais fossem combatidas.
Portanto, se as pessoas parassem para pensar, a "unanimidade" que beneficia não só Chico Xavier, mas Divaldo Franco, João de Deus e tantos outros, soa muito ridícula.
A alegação de "bondade" é frouxa, uma "bondade" que mais beneficia o ajudador do que o ajudado.
É como naqueles livros de auto-ajuda que quase nada contribuem para a melhoria de vida do leitor.
Mas que garantem a visibilidade e o estrelato de seus autores.
As pessoas deveriam, portanto, rever suas idolatrias viciadas, antes de cair em mais um ridículo da unanimidade estúpida.
Muitos ídolos do "espiritismo" são deturpadores severos que tentam acobertar a traição que fazem com Allan Kardec com simulacro de filantropia.
Um bom meio para se desapegar da idolatria "mediúnica" é admitirmos que muito do que se entende como "bondade" não passa de um mero discurso publicitário para iludir as pessoas.
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