(Por Demétrio Correia)
Um maniqueísmo desnecessário salvou o anti-médium Francisco Cândido Xavier de uma polêmica grave.
Já nos seus primeiros trabalhos supostamente psicográficos, ele era acusado de cometer pastiches e plágios literários.
Aí veio a abordagem maniqueísta.
Se Chico Xavier cometeu pastiches, ele então teria sido um refinado pastichador capaz de imitar mais de cinquenta escritores da literatura de língua portuguesa.
Se Chico Xavier não cometeu pastiches, ele era capaz de se comunicar com espíritos do mais sofisticado talento literário.
As duas visões tentavam proteger Chico Xavier que, sabemos, foi um grande arrivista que deturpou seriamente o tão trabalhoso legado deixado pelo professor Allan Kardec.
Mas um grande problema é menosprezado pelos chiquistas, que preferem o duelo das duas hipóteses simplórias.
É que se revelou que Chico Xavier não fazia o trabalho sozinho.
Ele tinha colaboradores entre os editores da chamada Federação Espírita Brasileira.
E tinha também consultores literários a seu serviço, por intermédio de Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da FEB, descobridor do "médium" e dublê de empresário do mesmo.
Essa visão foi trazida por nomes como o escritor católico Alceu Amoroso Lima, que afirmava que Parnaso de Além-Tumulo, a raiz de toda a controversa por ser uma suposta antologia de escritores do além, era feito pela equipe de editores da FEB.
Os "espíritas" solidários ao mito de Chico Xavier acharam a tese "absurda" e "inconcebível".
Mas, sem querer, uma seguidora do "médium" acabou revelando que houve, realmente, a "inconcebível tese".
Uma espécie de "fogo amigo" nos partidários do "bondoso médium".
No livro Testemunhos de Chico Xavier, de Suely Caldas Schubert, também "médium" e palestrante "espírita", uma carta de Chico a Wantuil, de 03 de maio de 1947, praticamente "confessou o crime".
"Grato pelos teus apontamentos alusivos ao “Parnaso” para a próxima edição. Faltam-me competência e possibilidade para cooperar numa revisão meticulosa, motivo pelo qual o teu propósito de fazer esse trabalho com a colaboração do nosso estimado Dr. Porto Carreiro é uma iniciativa feliz. Na ocasião em que o serviço estiver pronto, se puderes me proporcionar a 'vista ligeira' de um volume corrigido, ficarei muito contente, pois isso dará oportunidade de ouvir os
Amigos Espirituais, em algum ponto de maior ou menor dúvida. ".
Ele tenta encerrar a mensagem dizendo que vai "consultar os Amigos Espirituais", mas isso talvez seja apenas um código.
Não há garantia que Chico Xavier realmente esteja se referindo aos escritores que supostamente foram incluídos nas várias edições do livro.
Deve-se desconfiar, e muito, do que Chico Xavier fala ou descreve, pois ele, como deturpador, não seria digno de qualquer confiabilidade, por mais "bondosa" fosse sua imagem entre seus seguidores.
Como deturpador do Espiritismo, ele teria usado a Literatura e, mais tarde, a Filantropia, apenas como trampolim para veicular suas ideias mistificadoras e ultraconservadoras.
Isso choca seus seguidores.
Mas é a verdade contundente, só que ela compromete aquela imagem agradável e idealizada de um homem que sintetiza as fantasias de uma sociedade beata, paternalista e moralista.
Chico Xavier é blindado, ainda que seus seguidores se divirjam de uma maneira ou de outra quanto a esta blindagem, porque é um resumo de muitas imagens idealizadas.
A do caipira ingênuo, velhinho frágil, que simboliza uma suposta bondade religiosa, representa valores morais de servidão humana e uma forma glamourizada de moralismo, com a repressão ao prazer humano trazida por uma retórica doce.
Apesar das divergências, os chiquistas têm um ponto em comum: a obsessão e o apego doentios ao mito de Chico Xavier.
Sim, isso mesmo. O "médium" que dizia defender o "desapego e a desobsessão" não ensinou seus seguidores a fazer isso com ele.
Pelo contrário, a obsessão e o apego mostram casos de irritação profunda dos chiquistas contra qualquer questionamento ao seu ídolo.
Alguns tentam, de maneira tendenciosa, escrever artigos "intelectuais" para defender Chico Xavier e usar argumentos superficiais, contraditórios mas verossímeis e persuasivos.
Outros, porém, fazem artigos raivosos ou mesmo ameaças aos contestadores.
Um dos críticos da deturpação espírita, Jorge Murta, já falecido, já afirmou ter recebido ameaças de seguidores de Chico Xavier por ter questionado o "médium".
E não é de hoje. No caso de Amauri Xavier, sobrinho misteriosamente falecido (talvez por "queima de arquivo") por ter ameaçado revelar os "podres" da "indústria mediúnica" da FEB, Henrique Rodrigues, havia escrito um artigo rancoroso em 1958.
Nele, Henrique despeja raiva contra os que puseram dúvidas nas atividades de Chico Xavier.
Isso traz uma contradição muito grande.
Se Chico Xavier fosse realmente um homem que inspira energias elevadas, não haveria um único caso de explosões raivosas de seus seguidores.
Mas essas explosões existem, e envolvem até mesmo aqueles que parecem serenos, com fala macia, mas que por dentro têm o corpo fervendo de raiva violenta.
É a contradição que a deturpação do Espiritismo traz, diante da necessidade de manter no pedestal o seu maior deturpador.
Kardec estaria envergonhado e preocupado com tudo isso.
Um maniqueísmo desnecessário salvou o anti-médium Francisco Cândido Xavier de uma polêmica grave.
Já nos seus primeiros trabalhos supostamente psicográficos, ele era acusado de cometer pastiches e plágios literários.
Aí veio a abordagem maniqueísta.
Se Chico Xavier cometeu pastiches, ele então teria sido um refinado pastichador capaz de imitar mais de cinquenta escritores da literatura de língua portuguesa.
Se Chico Xavier não cometeu pastiches, ele era capaz de se comunicar com espíritos do mais sofisticado talento literário.
As duas visões tentavam proteger Chico Xavier que, sabemos, foi um grande arrivista que deturpou seriamente o tão trabalhoso legado deixado pelo professor Allan Kardec.
Mas um grande problema é menosprezado pelos chiquistas, que preferem o duelo das duas hipóteses simplórias.
É que se revelou que Chico Xavier não fazia o trabalho sozinho.
Ele tinha colaboradores entre os editores da chamada Federação Espírita Brasileira.
E tinha também consultores literários a seu serviço, por intermédio de Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da FEB, descobridor do "médium" e dublê de empresário do mesmo.
Essa visão foi trazida por nomes como o escritor católico Alceu Amoroso Lima, que afirmava que Parnaso de Além-Tumulo, a raiz de toda a controversa por ser uma suposta antologia de escritores do além, era feito pela equipe de editores da FEB.
Os "espíritas" solidários ao mito de Chico Xavier acharam a tese "absurda" e "inconcebível".
Mas, sem querer, uma seguidora do "médium" acabou revelando que houve, realmente, a "inconcebível tese".
Uma espécie de "fogo amigo" nos partidários do "bondoso médium".
No livro Testemunhos de Chico Xavier, de Suely Caldas Schubert, também "médium" e palestrante "espírita", uma carta de Chico a Wantuil, de 03 de maio de 1947, praticamente "confessou o crime".
"Grato pelos teus apontamentos alusivos ao “Parnaso” para a próxima edição. Faltam-me competência e possibilidade para cooperar numa revisão meticulosa, motivo pelo qual o teu propósito de fazer esse trabalho com a colaboração do nosso estimado Dr. Porto Carreiro é uma iniciativa feliz. Na ocasião em que o serviço estiver pronto, se puderes me proporcionar a 'vista ligeira' de um volume corrigido, ficarei muito contente, pois isso dará oportunidade de ouvir os
Amigos Espirituais, em algum ponto de maior ou menor dúvida. ".
Ele tenta encerrar a mensagem dizendo que vai "consultar os Amigos Espirituais", mas isso talvez seja apenas um código.
Não há garantia que Chico Xavier realmente esteja se referindo aos escritores que supostamente foram incluídos nas várias edições do livro.
Deve-se desconfiar, e muito, do que Chico Xavier fala ou descreve, pois ele, como deturpador, não seria digno de qualquer confiabilidade, por mais "bondosa" fosse sua imagem entre seus seguidores.
Como deturpador do Espiritismo, ele teria usado a Literatura e, mais tarde, a Filantropia, apenas como trampolim para veicular suas ideias mistificadoras e ultraconservadoras.
Isso choca seus seguidores.
Mas é a verdade contundente, só que ela compromete aquela imagem agradável e idealizada de um homem que sintetiza as fantasias de uma sociedade beata, paternalista e moralista.
Chico Xavier é blindado, ainda que seus seguidores se divirjam de uma maneira ou de outra quanto a esta blindagem, porque é um resumo de muitas imagens idealizadas.
A do caipira ingênuo, velhinho frágil, que simboliza uma suposta bondade religiosa, representa valores morais de servidão humana e uma forma glamourizada de moralismo, com a repressão ao prazer humano trazida por uma retórica doce.
Apesar das divergências, os chiquistas têm um ponto em comum: a obsessão e o apego doentios ao mito de Chico Xavier.
Sim, isso mesmo. O "médium" que dizia defender o "desapego e a desobsessão" não ensinou seus seguidores a fazer isso com ele.
Pelo contrário, a obsessão e o apego mostram casos de irritação profunda dos chiquistas contra qualquer questionamento ao seu ídolo.
Alguns tentam, de maneira tendenciosa, escrever artigos "intelectuais" para defender Chico Xavier e usar argumentos superficiais, contraditórios mas verossímeis e persuasivos.
Outros, porém, fazem artigos raivosos ou mesmo ameaças aos contestadores.
Um dos críticos da deturpação espírita, Jorge Murta, já falecido, já afirmou ter recebido ameaças de seguidores de Chico Xavier por ter questionado o "médium".
E não é de hoje. No caso de Amauri Xavier, sobrinho misteriosamente falecido (talvez por "queima de arquivo") por ter ameaçado revelar os "podres" da "indústria mediúnica" da FEB, Henrique Rodrigues, havia escrito um artigo rancoroso em 1958.
Nele, Henrique despeja raiva contra os que puseram dúvidas nas atividades de Chico Xavier.
Isso traz uma contradição muito grande.
Se Chico Xavier fosse realmente um homem que inspira energias elevadas, não haveria um único caso de explosões raivosas de seus seguidores.
Mas essas explosões existem, e envolvem até mesmo aqueles que parecem serenos, com fala macia, mas que por dentro têm o corpo fervendo de raiva violenta.
É a contradição que a deturpação do Espiritismo traz, diante da necessidade de manter no pedestal o seu maior deturpador.
Kardec estaria envergonhado e preocupado com tudo isso.
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