(Por Demétrio Correia)
Quem segue o "espiritismo" brasileiro tem uma mania de dissimulação.
Afirma que obtém "conhecimentos" e se acha "profundamente esclarecido".
Mas, quando se vê como se dá isso, é o deslumbramento religioso que fala mais alto.
A religião marcada pela desonestidade doutrinária, por ter raiz em Jean-Baptiste Roustaing mas se autoproclama "rigorosamente fiel" a Allan Kardec, permite a dissimulação.
Usa a Ciência apenas para sustentar os caprichos pedantes e arrivistas da Fé.
Mas não estabelece equilíbrio entre raciocínio e religiosidade, antes apostando na supremacia desta última.
O "espiritismo" é marcado por tantas contradições que fazem ele ser uma das religiões mais desonestas do mundo.
A título de comparação, religiões como a Igreja Católica e o Protestantismo têm suas fantasias, mas não apelam para a desonestidade doutrinária.
Podem falar até em mar se partindo ao meio, como na famosa passagem de Moisés, mas não ficam dizendo uma coisa e fazendo outra.
O "espiritismo" brasileiro tem esse grave defeito. E ele é grave, mesmo.
Tenta forjar uma embalagem de movimento científico-filosófico, que esconde um igrejismo extremo de conteúdo medieval.
Através de Francisco Cândido Xavier, o "espiritismo" fez se projetar a Teologia do Sofrimento, algo que os próprios católicos não conseguiram.
Identificamos a Teologia do Sofrimento em Chico Xavier não pela evocação deste nome, mas pela associação de ideias que fazem apologia ao sofrimento humano como "atalho para Deus".
O conteúdo do "espiritismo" brasileiro é moralista, ultraconservador, medieval, que a gente até pergunta o que os ateus e esquerdistas viram em Chico Xavier para sentirem complacência por ele.
Em muitos momentos, o "espiritismo" lembra o antigo Catolicismo jesuíta do Brasil colonial.
Ele representou uma grande marcha-a-ré em relação ao Espiritismo original de Allan Kardec.
Kardec se inspirava nas ciências que se ascenderam na França iluminista.
Já com Chico Xavier, o "espiritismo" brasileiro sucumbiu ao resgate de velhos paradigmas do Catolicismo jesuíta, a partir do próprio espírito de Manuel da Nóbrega, rebatizado Emmanuel.
E Chico Xavier ainda falava em ufologia, como se isso "modernizasse" seu ideário medieval.
Mas falava em ufologia como a velha ficção científica dos primórdios do século XX.
Há muita dissimulação no "movimento espírita" e, o que é pior, consagrado pela "fase dúbia" que diz exaltar o legado kardeciano, mas pratica o igrejismo mais viscoso.
E é isso que fez com que os adeptos do "espiritismo" brasileiro, até pela boa-fé, fossem dissimulados.
Donas-de-casa que acham que podem entender de Ciência, mas só entendem do velho igrejismo que já conhecem desde os primeiros ritos católicos.
Homens que se acham esclarecidos e portadores de Conhecimento, quando na verdade só são especializados em moralismo igrejista, antiquado e hierarquizado.
Essa dissimulação traz o maior prejuízo para os "espíritas".
Ao dizerem uma coisa e fazerem outra, ou, não obstante, dizer uma coisa e depois dizer outra, eles caem em séria contradição.
E aí, sem ter como explicar, usam desculpas esfarrapadas, às vezes dissimuladas em discurso "mais racional e objetivo".
Quando não o fazem, choram ou reagem com muita raiva.
Não assumem suas próprias contradições, como os dissimulados, que preferem viver com sua máscara dupla de pretensos cientistas que praticam igrejismo beato.
E é isso que Allan Kardec não queria que a Doutrina Espírita se resultasse. Infelizmente, no Brasil é a deturpação do Espiritismo que domina e comanda todo o processo.
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