(Por Demétrio Correia)
Não são poucas as irregularidades observadas na obra dita mediúnica de Francisco Cândido Xavier.
E não são menos graves ou preocupantes.
É uma responsabilidade muito grande se dizer representante dos mortos, embora isso também apresente problemas.
Afinal, o que se vê é uma deturpação não só do Espiritismo, mas do trabalho mediúnico.
Aqui o "médium" pratica "culto à personalidade", coisa que ninguém vê porque o aparato de "bondade" dissimula e os transforma imediatamente em "ícones da humildade", "símbolos de simplicidade".
Mas você nota claramente o estrelato, com os "médiuns" transformados em "centro das atenções".
E aí Chico Xavier, que começou sob acusação de cometer pastiches literários, hoje é o semi-deus que todos querem proteger.
As pessoas fazem todo um rodeio, toda uma viagem de palavras para defender Chico Xavier de qualquer maneira, mesmo admitindo seus defeitos.
Querem deixá-lo inteiro até na hipótese de recuperar as bases doutrinárias originais, mesmo que seja só para enfeite.
Voltando aos pastiches literários, o caso de Parnaso de Além-Túmulo é ilustrativo.
O livro é suspeito porque, com a pretensão de ser uma obra acabada da espiritualidade superior, sofreu cinco reparos em quase duas décadas e meia.
O livro, de 1932, teve no total seis edições. A última foi em 1955.
Seu conteúdo causou problemas porque foram apontados pastiches literários diversos, em que pese a semelhança de estilo das obras "espirituais" com as dos correspondentes autores mortos no seu legado deixado em vida.
Os partidários de Xavier logo reagiram: acharam inadmissível um único homem imitar tão diferentes estilos literários.
Acharam que Xavier seria "divino de qualquer maneira": seja "evocando" os mortos, seja realizando pastiches sofisticados de múltiplos estilos e artistas literários.
À primeira vista, tudo parece "resolvido": os autores do além colaboraram com sua obra para o livro de Chico Xavier e "estamos conversados".
Mas, e os pastiches literários, as irregularidades de estilo? E os remendos das edições, com acréscimos e subtrações de autores?
Certamente Chico Xavier não faria imitações sozinho. Mas contou com colaboradores.
Um indício dessa hipótese foi trazido, ironicamente, por uma seguidora de Xavier, a também "médium" Suely Caldas Schubert, no livro Testemunhos de Chico Xavier.
O livro publicou uma carta de Chico Xavier ao então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, datada de 03 de maio de 1947, sobre os preparativos da sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo.
Chico escreveu com suas próprias palavras:
"Grato pelos teus apontamentos alusivos ao “Parnaso” para a próxima edição. Faltam-me competência e possibilidade para cooperar numa revisão meticulosa, motivo pelo qual o teu propósito de fazer esse trabalho com a colaboração do nosso estimado Dr. Porto Carreiro é uma iniciativa feliz. Na ocasião em que o serviço estiver pronto, se puderes me proporcionar a “vista ligeira” de um volume corrigido, ficarei muito contente (...)".
Porto Carreiro se trata de Luiz da Costa Porto Carreiro Neto, membro da equipe editorial da FEB.
Chico Xavier sempre contou com colaboradores literários, co-escritores, consultores literários.
A bibliografia que levou o nome de Humberto de Campos foi, na verdade, escrita por Chico e Wantuil.
Boa parte da obra sob o nome de André Luiz foi escrita por Chico e Waldo Vieira.
Nos anos 80 e 90, Chico Xavier não teria sequer escrito parte dos livros que lançou, por estar doente e, ainda assim, cheio de compromissos como celebridade religiosa.
Há uma equipe de colaboradores que precisa ser analisada.
Sabe-se que ela existe, só precisamos saber de detalhes.
Falta um trabalho realmente investigativo sobre o "movimento espírita".
Não aquele que finge fazer revelações sobre irregularidades e depois as põe debaixo do tapete.
Devemos mesmo ter coragem e investigar, sem medo da carteirada religiosa.
Até porque, se tivermos medo de gente parecendo boazinha e chorosa, é sinal de que nós somos, no caso, pessoas muito, muito fracas.
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