(Por Demétrio Correia)
Um grupo religioso se reúne todas as terças-feiras para "orar pelo país".
O evento é comandado pela Igreja Católica, mas envolve evangélicos e "espíritas".
Ontem o grupo se destacou publicando mensagens em efeitos luminosos.
No prédio do Congresso Nacional, várias mensagens foram refletidas.
A principal delas dizia: "Brasileiros, tenham fé!".
Houve também uma mensagem de neon dizendo: "Deus, salve o Brasil!".
Tudo isso parece maravilhoso, se não fosse um detalhe: as religiões contribuíram para o cenário sócio-político que hoje temos.
Quando lhes é do seu interesse, elas pregam golpes militares, e pedem para que aceitemos governos autoritários, apenas "orando" para que as autoridades "pensem pelo próximo".
O papel das religiões na Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, em 1964, é bastante notório.
A ressalva é que, dos três grupos religiosos, apenas os católicos expressam avanços ideológicos e possuem atuantes facções progressistas.
Os evangélicos e os "espíritas" sucumbiram ao ultraconservadorismo, e com muito gosto se mobilizaram para derrubar a presidenta Dilma Rousseff.
É verdade que ambos disputam entre si para exercer a supremacia religiosa no Brasil.
A Rede Globo deu uma ajudinha para formatar o mito de "filantropo" de Francisco Cândido Xavier.
O "admirável" Chico Xavier virou "símbolo da caridade" para neutralizar a ascensão de Edir Macedo, R. R. Soares e companhia nos meios de comunicação.
E Chico Xavier era ultraconservador, apesar da (falsa) imagem de "progressista".
Ele havia defendido a ditadura militar quando boa parte da direita que o apoiou passou para a oposição. E isso com suas frases, ditas conscientemente num programa de TV de grande audiência.
Até o católico Alceu Amoroso Lima, que acusou Parnaso de Além-Túmulo de ter sido uma farsa de editores da FEB, defendeu o golpe de 1964 mas logo depois se tornou ferrenho opositor da ditadura.
Em episódios mais recentes, o "movimento espírita" chegou a atribuir às "passeatas dos coxinhas", aquelas que tinham até pato de borracha e muita gente com camiseta da CBF, como "despertar da humanidade" e "indício de regeneração".
Agora os "espíritas" são obrigados a admitir a crise e orar por "um futuro melhor".
Até pouco tempo atrás, eles comemoravam que a corrupção política "estava diminuindo" e o Brasil estava seguindo um "caminho seguro" de "recuperação e progresso".
É a velha mania dos "espíritas".
Num dia, se atrevem a tentar afirmar com firmeza sobre acontecimentos futuros e posturas austeras, como se estivessem com a verdade em suas mãos.
No dia seguinte, desmentem tudo com explicações muito mal fundamentadas, mas que são aceitas de maneira passiva, sem críticas.
Afinal, os "espíritas" têm uma diferença em relação aos "colegas" neopentecostais.
Os neopentecostais são mais populares, mas os "espíritas" é que mantém maior blindagem social e midiática, como um PSDB das religiões.
O "espiritismo" brasileiro é a única religião que, oficialmente, vive num "céu de brigadeiro", mesmo com irregularidades de fazer qualquer morto sacudir no túmulo.
A religião ainda é vista como "perfeita" e mesmo sua forma catolicizada e deturpada, distante do Espiritismo original de Allan Kardec, é aceita sem reservas.
Mas, aos poucos, se começa a ver como o "espiritismo" brasileiro está mais próximo de um sub-Catolicismo neo-medieval do que uma adaptação brasileira da Doutrina Espírita.
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