(Por Demétrio Correia)
O "espiritismo" não aprecia a individualidade humana.
Prefere ver a vida de uma forma nunca personalizada e apegada aos padrões dominantes.
Paciência. É uma religião conservadora, calcada no Catolicismo jesuíta, e distanciada do Espiritismo original de Kardec.
Diante disso, se o sofredor sofre demais, e encontra barreiras pesadas na vida, os "espíritas" sempre vêm com a mesma ladainha.
Pedem, em primeiro momento, para o sofredor aguentar o sofrimento, talvez até amá-lo.
No segundo momento, pedem para o sofredor mudar seus pensamentos, ficar mais alegre.
No terceiro momento, pedem para o sofredor abrir mão de suas vocações, encarar qualquer cilada, porque "as piores armadilhas oferecem as melhores oportunidades de aprendizado".
Ah, claro, agradecer até quando estamos acuados, quando a agonia está no limite.
Se as paredes móveis vão esmagar nosso corpo, "muito obrigado" por isso.
Se a água no fundo do poço aumenta para afogar o sofredor, "mil gratidões" por esse "benefício".
Muda-se o pensamento para ver a guilhotina como um "bem". E promover a fraternidade do pescoço com a lâmina, em infindável misericórdia.
Nos tratamentos espirituais, as pessoas relatam as dificuldades pesadas que sofrem e os "auxiliadores fraternos" nem estão aí.
"Aguente o sofrimento", "de repente aquela cilada terrível é uma grande chance de progresso", dizem esses "nobres conselheiros".
É como num computador infectado, em que o anti-vírus faz uma varredura e diz que não há vírus. Mas até algumas atividades demonstram haver tal problema, sim.
As pessoas que sofrem dificuldades pesadas não querem vida mole.
Elas querem oportunidades diferenciadas. A oportunidade A nem sempre é eficaz para a pessoa B.
Individualidade não é individualismo.
A individualidade é o reconhecimento e a expressão de qualidades pessoais próprias.
Ninguém é completamente igual, não há como o "espírita", no seu juízo de valor, querer decidir o que é ou não melhor para seu assistido.
Querer oportunidades da vida conforme as necessidades pessoais não é individualismo, que se manifesta pelo personalismo excessivo e pelas extravagâncias mórbidas.
Ninguém está disposto a viver uma vida "qualquer nota" e os "espíritas" não sabem o quanto constrangedor é ficar se submetendo às adversidades e nadar conforme a corrente.
Negociar com os algozes, compactuar com os arrivistas, abrir mão dos próprios talentos para "vencer na vida", tanto sacrifício para ser "mais um na multidão".
Isso é grave. Mas a sociedade brasileira em geral, e os "espíritas" em particular, não percebem isso.
Para eles, basta a pessoa se subordinar num momento para se emancipar no outro.
Infelizmente, o raciocínio dominante no Brasil ainda é medieval, vindo de pessoas supostamente "modernas".
São pessoas que confundem individualidade com individualismo e dando soluções "qualquer nota" para o outro que não é necessariamente igual a elas.
E assim os "espíritas" acabam defendendo o sofrimento e depreciando o sofredor.
O peixe é que pule para atingir o topo de um pinheiro. Se o peixe não der um salto gigantesco, é "por falta de fé".
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