(Por Demétrio Correia)
Um grande perigo representa as paixões religiosas.
A exposição de palavras lindas, com belas melodias, imagens agradáveis.
Algumas imagens tristes, mas comoventes, como pobres sorrindo ou velhos doentes com olhar melancólico.
Ídolos religiosos e seus funcionários com postura aparentemente fraternal, com sorriso largo e supostas benevolência e misericórdia.
De repente, o cético ou o sofredor, ao se depararem com tais apelos, pensa que está na entrada do paraíso.
Bom demais para ser verdade.
O "espiritismo" deturpa e faz o que quer com o legado de Allan Kardec e ninguém desconfia dos apelos aparentemente bonitos e positivos que os deturpadores fazem.
De boas intenções, o "umbral" está cheio e há muito os espíritos inferiores falam fluentemente a língua dos querubins.
Quantos céticos que faziam questionamentos consistentes, profundos, incisivos, se perdem no meio do caminho porque se rendeu a um deturpador.
O deturpador veio com aquele discurso de "bondade", com o aparato de emotividade que seduziu o cético, e este se ofereceu como presa, diante da arapuca dotada das mais belas iscas.
Se iludiu com esse papo de "amor e caridade", "misericórdia e fraternidade", com o serviçal do deturpador lhe botando a mão no ombro, com carinho familiar.
Melodias tocantes do sintetizador, quase emulando vibrafones de acordes dóceis.
Imagens de paisagens floridas, pessoas abrindo os braços diante do céu azul, como se entregassem ao próprio raio de sol.
Imagens do fundo do mar, com peixinhos coloridos nadando calmamente.
E aí vem a imagem do deturpador, como pretenso filantropo.
Pronto. Aí vem a fascinação obsessiva, que pega desprevenido até mesmo o mais dedicado crítico da deturpação espírita.
O crítico cai no ridículo, porque afrouxa nos questionamentos.
No primeiro instante, ele até continua criticando a deturpação do Espiritismo.
Apenas dá a "ressalva" de que os deturpadores devam ser poupados por causa da "caridade".
Acha que isso é uma postura equilibrada e que vai ficar nisso: continuar criticando a deturpação sem mexer nos deturpadores, que a seu ver "merecem uma chance".
Mas aí o tempo passa e ele, confiante na "bondade" dos deturpadores, se interessa um dia a ler seus textos, afinal, a seu ver, eles "não ofendem", por mostrar "coisas boas".
Lê um livro de um deturpador e fica tocado com as "boas lições morais" que ele traz, ainda que numa perspectiva igrejista.
Ele vai confiar no deturpador, afinal, a seu ver ele só "pratica a bondade".
Diante disso, ele começa a deixar de criticar a deturpação, envergonhado diante do que leu, que a seu ver só tem "coisas boas".
De repente ele acha que é legal fantasiar o mundo espiritual como um ambiente que não se pode construir numa Terra desigual e egoísta.
Até ele cair das nuvens, no regresso ao mundo espiritual tal como é, diferente do "paraíso" sonhado pela deturpação espírita, o crítico convertido continuará sonhando e sonhando.
E, preso às paixões religiosas, achava que continuaria criticando a deturpação sem questionar os deturpadores. Acabou poupando os deturpadores e, mais tarde, a deturpação.
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