(Por Demétrio Correia)
Francisco Cândido Xavier criou uma péssima escola de mediunidade.
Com dons paranormais existentes, porém limitados, Chico Xavier tentou usá-las de forma tendenciosa e teria perdido parte da habilidade.
Foi fazer livros que se revelam evidentes pastiches, mas, vale lembrar, Chico contou com a ajuda de muita gente, como editores e redatores da FEB e consultores literários.
As obras se distanciam dos estilos pessoais dos autores mortos alegados, e isso é fato, bastando uma comparação textual.
Diante desse detalhe comprometedor, as mensagens quase sempre vêm com um apelo igrejista muito, muito estranho.
De sacerdotes a roqueiros, de escritores ateus a políticos católicos, todos "fazem" o mesmo apelo religioso, a "união pela fraternidade cristã" ou outras súplicas mais sutis, porém presentes.
E como se faz uma suposta psicografia dessas?
Ora, tudo é feito geralmente em salas secretas, embora haja o caso de Chico Xavier ter feito mensagens em público, com as plateias aconselhadas a assistir a tudo em silêncio.
Em Portugal, há o caso dos "poetas alegres" com seus poemas dizendo o quanto sofrer é lindo.
Tudo fica fácil, porque o "espiritismo" brasileiro e seus derivados no exterior virou um mero espetáculo de palavras bonitinhas.
Geralmente a mensagem "mediúnica" funciona assim.
No caso das mensagens de entes queridos mortos, as famílias vão a uma "casa espírita" fazer uma consulta no "auxílio fraterno".
Lá elas são entrevistadas e tudo o que elas falam, além dos gestos, é observado pelo entrevistador.
Informações textuais e comportamentais são captadas, além de dados subliminares através de relatos ou de formas do entrevistado reagir a determinadas ideias.
Isso é "leitura fria", uma técnica que o "espiritismo" pegou dos trabalhos de hipnose e ilusionismo aproveitados em atrações circenses.
Também se faz outras pesquisas, como reportagens, no caso das mortes de anônimos terem sido noticiadas na imprensa.
No caso de obras envolvendo famosos, sobretudo supostos livros psicográficos, pesquisa-se os dados biográficos do morto escolhido, geralmente informações básicas, mas não raro também as sutis.
Com isso, se produzem supostas mensagens espirituais.
O grande equívoco dos que defendem a veracidade nestas mensagens é que eles superestimam as semelhanças.
"Olhe, é ele mesmo! A mensagem é parecida! O mesmo lirismo, o mesmo tom de escrita!", apressam-se a afirmar os deslumbrados.
Mas o problema não são as semelhanças, porque toda farsa faz o possível para parecer verdadeira.
O problema é que existem diferenças comprometedoras, que derrubam qualquer chance de autenticidade.
Erasto deveria até ter dito: "Não aceite a autenticidade de uma obra por dez semelhanças, se nelas há uma única diferença comprometedora".
Talvez ele até pensasse assim, pois a ideia condiz ao seu pensamento trazido nos tempos de Allan Kardec.
O caso do poema "A Terra", atribuído ao espírito de Casimiro de Abreu no livro Parnaso de Além-Túmulo, de Francisco Cândido Xavier, é ilustrativo.
Nele aparecem versos que lembram o estilo do falecido poeta fluminense.
Mas, na penúltima estrofe, os versos "E enche-se de esperanças / Para sofrer e lutar" não refletem o pensamento de Casimiro, mas a opinião pessoal de Chico Xavier.
Nas obras de Chico Xavier, se vê que nomes como Auta de Souza, Olavo Bilac, Humberto de Campos e Cruz e Sousa, entre outros, aparecem "pensando igualzinho" ao anti-médium mineiro.
Isso é "mentiunidade". A fraude é constatada por uma simples comparação textual.
Isso pode ser decepcionante sob o ponto de vista das paixões religiosas e não são raras as pessoas que resistem a admitir esta constatação, que consideram "depreciativa".
Mas é realista sob o ponto de vista da lógica e do bom senso.
Pela realidade em que vivemos e pelo fato de que somos seres racionais, o ideal é que o bom senso e a lógica estejam acima de qualquer paixão religiosa.
Mas, infelizmente, ocorre o contrário. E é essa supremacia da fé e das fantasias religiosas que está arrasando com o Brasil.
Comentários
Postar um comentário