(Por Demétrio Correia)
A suposta mediunidade trazida pelos ditos "médiuns" revela um dado muito perigoso.
Não bastassem as irregularidades apresentadas, elas atendem a uma obsessão materialista.
A de que os vivos estão carentes de trabalhos inéditos de pessoas que já morreram.
Ainda que fosse algo mais autêntico, vá lá, mas, mesmo assim, com muito cuidado e talvez de maneira eventual.
Da forma como se faz, a partir do exemplo de Francisco Cândido Xavier, isso se torna arriscado e irresponsável.
A obsessão por obras inéditas faz com que os saudosos da Terra atribuam autenticidade a qualquer obra que leve o crédito de um morto.
A bela negra Auta de Souza, poetisa potiguar que viveu no final do século XIX, por exemplo.
Morta com apenas 25 anos de idade, em 1901, com apenas um livro lançado em vida, a menina, evidentemente, não pôde lançar trabalhos inéditos depois de então.
Mas aí os beatos da religião "espírita" recebem poemas mediúnicos atribuídos a seu nome e ficam felizes.
"Vejam, vejam, Auta voltou a escrever!!", dizem os beatos, desavisados.
Só que os poemas do "espírito Auta de Souza" não possuem aquela graciosidade feminina que era o estilo da jovem poetisa.
Os poemas têm mais o cheiro masculino e mineiro de Chico Xavier, e refletem o pensamento pessoal dele.
Mas as pessoas não querem se desiludir e, carentes de um novo poema que Auta não pode mais escrever, adotam os poemas bastardos assim mesmo.
E são capazes de montar caderninhos misturando poemas originais da Auta com os poemas "espirituais".
Melhor não fazê-lo.
Afinal, numa leitura sequenciada, se verá a diferença gritante entre os poemas dela e do suposto espírito.
E verão, desapontados, que a suposta Auta se converteu ao estilo pessoal de Chico Xavier.
Para quem vive nas paixões religiosas, aceita tudo numa boa.
Mas para quem quer lógica, ética e coerência, vai sair completamente frustrado e aborrecido.
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