(Por Demétrio Correia)
Um dos textos mais lidos pelo Dossiê Espírita, principal página de questionamento da deturpação do Espiritismo, fala sobre Raul Seixas.
Intitulado "Raul Seixas nunca teria sido o espírito Zílio", o texto causa polêmicas entre aqueles que acreditam que o roqueiro baiano virou militante religioso no além-túmulo.
Um livro foi lançado com a pretensão de mostrar um suposto Raul Seixas para os "espíritas".
A obra, Um Roqueiro do Além, de Nelson Moraes, usava o nome Zílio, que ele dizia ser atribuído ao roqueiro que, em vida, nos deu músicas como "Gita", "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" e "Sociedade Alternativa".
Houve um outro livro atribuído a Zílio, Há Dez Mil Anos, que revela claramente a paródia do título, em relação a Há Dois Mil Anos, de Francisco Cândido Xavier, atribuído a Emmanuel.
Aliás, Zílio é outra estratégia que Nelson teria "inspirado" em Chico Xavier, que mudou o nome de Humberto de Campos para Irmão X.
Assim como o Irmão X continua sendo o suposto Humberto de Campos para o público "espírita", o Zílio continua sendo o suposto Raul Seixas.
Não é difícil ver que a atribuição a Raul Seixas é uma farsa.
Lendo os dois livros de Nelson Moraes, nota-se que o Raul Seixas que aparece ali é uma caricatura.
Um Raul Seixas ingênuo e apegado ao misticismo que marcou sua carreira nos anos 1970 e parecia mais radicalizado e catolicizado na "obra espiritual".
De tão ingênuo, Zílio parece até um bobalhão que só se preocupa em fazer trocadilhos: "O mundo só é uma droga, para quem se droga no mundo".
Um grande pastiche, diga-se de passagem.
Quem conhece Raul Seixas profundamente, sabe que isso é uma farsa, e isso pode ser comprovado com a própria biografia do roqueiro baiano.
Nos anos 1980, Raul abandonou o misticismo, passando a se tornar bastante cético e até cínico.
Em 1987 ele publicou sua primeira parceria com o conterrâneo Marcelo Nova, da banda Camisa de Vênus, "Muita Estrela, Pouca Constelação", com um humor bastante corrosivo.
Raul estava com saudade de suas raízes roqueiras, que lhe consolavam no seu pessimismo com os rumos do Brasil, no final de sua curta vida, abreviada em 1989, aos 44 anos de idade.
O "Raul Seixas" de Nelson Moraes mais parece construído pela imagem caricata e adocicada que periódicos como Amiga e Contigo produziram sobre o roqueiro baiano.
Essa imagem caricata e adocicada reforçava um religiosismo que Raul teria abandonado nos anos 80 e dificilmente recuperaria.
A obra Um Roqueiro do Além foi lançada em 1998, nove anos após o falecimento do roqueiro, e é impossível que Raul, pelos contextos diversos, tivesse voltado a ser um místico e ter virado até um igrejista abobalhado.
Raul não se prestaria a fazer um papel desses, que ele consideraria idiota.
Portanto, nesse mercado da "mentiunidade" (mediunidade falsa), Raul Seixas foi mais um fake a alimentar a venda de livros supostamente psicográficos.
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