Pular para o conteúdo principal

A privatização da bondade?

(Por Demétrio Correia)

Você é seguidor do que se entende como "espiritismo" no Brasil?

Você se considera um "espírita" e adora os "médiuns" que acredita serem símbolos de "amor e bondade"?

Então você caiu numa armadilha.

Você acaba privatizando a ideia de "bondade" a ídolos religiosos que nem praticam aquela caridade que tanto se fala.

As elites adoram que o povo idolatre figurões religiosos, porque, assim, a caridade se reduz a um conceito restrito, estritamente religioso.

A seita religiosa pode variar, mas a ação de ajudar o próximo se restringe a "especialistas" que, no jargão religioso, são conhecidos como "iluminados" e, em sua atividade, "filantropos".

Claro que os "espíritas" vão dizer que "bondade é virtude de todos".

Mas eles ficam enrolando, na sua hábil coreografia de palavras bonitas.

Atribuem como "bondade" a servidão extrema, através da ênfase de que se deve sobretudo escolher situações desagradáveis e até nocivas para se tocar a vida.

A desculpa é a depuração da alma, algo que nem de longe acontece, em várias circunstâncias.

Você se casa com alguém que não ama nem possui a menor afinidade e o que se vê são conflitos extremos, que podem gerar ainda mais dor, tristeza ou ódio.

Você trabalha numa empresa corrupta, cujo patrão é arrivista e aceita pessoas de notável talento não por generosidade, mas pela chance de se promover às custas de seus empregados.

E isso quando não é outro trabalho, com um patrão mais prepotente.

Nada disso traz a depuração da alma, mas em muitos casos a corrosão e a piora na mente de cada indivíduo.

Evidentemente, o mal é banalizado e por isso a natureza "normal" do ser humano é ser cruel.

Isso gera a desculpa da privatização da ideia de "bondade" ao institucionalismo religioso ou à personificação por parte de pretensos filantropos.

E ainda que seja a preço do mero assistencialismo, ou seja, uma "caridade" que não traz resultados profundos e só garante a publicidade do "benfeitor", alvo de adoração plena.

Isso traz uma ideia muito negativa, pois, em vez de haver uma "maldade" controlada, temos uma "bondade" controlada.

Controla-se a bondade, porque esta virtude fica submetida aos padrões do moralismo religioso.

Enquanto isso, a maldade sai descontrolada, como se vê nos noticiários policiais, e há até desculpas moralistas para tanto: "defesa da honra", "direito à propriedade", "defesa dos valores da família", "mérito de herança" etc.

Os "espíritas" nem estão aí, alegando que as vítimas é que são "culpadas" por causa dos tais "reajustes espirituais".

E num Brasil em que privatização é a palavra de ordem, nada como privatizar também a caridade.

A caridade acaba tendo seus "donos", e por mais que os religiosos, inclusive "espíritas", alardeiem que a bondade pode ser praticada por todos, os próprios "exemplos de bondade" já mostram uma certa restrição.

É como se "todos pudessem ser bons", mas usando a franquia de cada religião, como se faz no franchising empresarial.

Deste modo, é difícil ser naturalmente bom num mundo naturalmente mau.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vídeo: Diferenças entre o Espiritismo Original de Allan Kardec e o Espiritismo Brasileiro de Chico Xavier

Vídeo didático ensina a diferença do Espiritismo original de Allan Kardec e o "espiritismo" deturpado de Chico Xavier e Divaldo Franco. Vale a mais ampla divulgação.

Qual a relação de Edir Macedo e R. R. Soares com Chico Xavier?

(Por Demétrio Correia) Qual a relação que os "bispos" neopentecostais Edir Macedo e R. R. Soares têm com o "médium" Francisco Cândido Xavier? O leigo vai cair da cadeira e vai achar absurdo, sobretudo num dia como hoje. Afinal, fazem 15 anos do falecimento de Chico Xavier e os chiquistas devem preparar sua inundação de lágrimas. Como comparar o "iluminado médium" aos dois usurpadores da fé cristã. Simples. Porque Chico Xavier também havia sido um usurpador. Um católico ortodoxo que se tornou um dos maiores aproveitadores do legado da Doutrina Espírita. A trajetória do "bondoso médium" sempre foi marcada de muita confusão e conflitos. As pessoas devem abandonar essa teimosia infantil de achar que as confusões que envolveram o "médium" foram causadas pelos detratores. Não foram. Foram causadas pelo próprio "médium" e seus parceiros nas empreitadas da deturpação espírita. A imagem "

A verdadeira luta de Davi e Golias

(Por Ernesto de Almeida, via e-mail) Davi e Golias se encontram para um duelo numa arena improvisada e lotada. Golias, um gigante, inicia um discurso em que ele parece se definir pelo oposto que é: - Eu, que sou tão pequeno e humilde, só me acho grandioso na infinitude de Deus. Golias diz isso com voz macia e fala mansa. Forte, no entanto se diz um fraco que triunfou. Davi reage, dizendo: - Golias, as suas pregações são dotadas de muita falta de lógica, logo se vê que você é forte e está no lado dos tiranos da Terra. Davi recebe vaias da plateia. Golias fica cabisbaixo, choroso, mas levanta a espada apenas para intimidar o rival e diz: - Você paga por reajustes espirituais que contraiu em alguma vida em outros tempos. - Que provas você tem que eu tenho que pagar? E que vida você supõe eu ter tido em outros tempos? A plateia vaia Davi. E o juiz do duelo diz a Davi, repreendendo-o: - Não faça perguntas. Lute e confie. Golias fica quieto,