(Por Demétrio Correia)
Os "espíritas", quando apelam para os sofredores suportarem as próprias desgraças, estabelecem o seguinte discurso.
Pedem não apenas para aceitar o sofrimento, mas até mesmo para "amá-lo", como se fosse possível ficar feliz com tantas aflições.
Os "espíritas" se dizem seguidores de Allan Kardec, que questionava o conceito de "castigos eternos".
Mas os "espíritas", se não defendem abertamente a ideia de "castigo eterno", tentam defender a ideia de "castigos prolongados".
Você já leu isso: "Que é um sofrimento de décadas diante da eternidade da vida?".
Pura hipocrisia.
Os "espíritas" dão voltas e voltas no seu discurso, afinal a maior habilidade que eles mostraram até agora é o malabarismo das palavras.
Sem assumir no discurso, acabam pregando a Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica, retrocedendo de maneira assustadora em relação ao trabalho kardeciano original, calcado nas conquistas do Iluminismo.
Isso é um bombardeio nas mentes das pessoas tão sofridas.
As pessoas têm sobressaltos, sofrem riscos, são ameaçadas, têm perdas e derrotas graves, e vai o "espírita" dizer para ela amar essa situação?
E isso a troco de quê?
Das chamadas "bênçãos futuras", como pregam os "espíritas".
A ideia é defender que a pessoa sofra as piores coisas na vida, forçando-a a abrir mão até de suas próprias necessidades, abandonando desejos até nada mais restar, para depois ela receber os tais "prêmios" da vida futura.
É aquela ideia do "quanto pior, melhor".
Uma "espiritualização" na base da tortura.
Mas o problema é que diacho é essa tal de "bênção futura".
O que é "bênção"? Aparentemente, segundo a língua portuguesa, é um desejo benéfico para a vida de alguém.
Diz o Wikipedia: "De uma maneira geral, é uma expressão proferida oralmente constituindo de um desejo benigno para uma pessoa, grupo ou mesmo uma instituição, que pressupõe um efeito no mundo espiritual, de modo a afetar o mundo físico, fazendo com que o desejo se cumpra".
Mas, diante do moralismo "espírita", não se define o que é "bênção".
É um prêmio material? Ou um prêmio espiritual? Aroma de flores? Canto de passarinhos? Pó de pirlimpimpim?
Além disso, a ideia predominante de que as "bênçãos futuras" ocorrerão postumamente, ou seja, no mundo espiritual, traz o caráter duvidoso dessa "dádiva".
Os "espíritas" concebem um "mundo espiritual" de acordo com suas fantasias materialistas.
A ideia é viver a encarnação presente encarando as piores situações, porque, depois da morte, haverá um condomínio de luxo com bosque, hospital, shopping center e até filhotes de cães e gatos saltitando na relva.
Deram o nome a esse condomínio de luxo, igualzinho ao dos comerciais de classificados, de "colônias espirituais".
Ou seja, os "espíritas", em vez de ajudar o sofredor, aconselham ele a aguentar desgraças, porque o infeliz está "no caminho certo".
O rapaz é vítima de cyberbullying? Não tem problema, agradeça as humilhações recebidas, aquele blog ofensivo criado para a vítima, e agradeça para cada gracejo e ameaça recebida!
A idosa perdeu, num acidente, a sua filha confidente? Não se preocupe, tente um diálogo com o irmão drogado dela e faça ele até reproduzir a fala meiga da menina falecida!
A moça se casou com um bonitão que depois se revelou um sujeito violento? Acaricie ele depois de receber cada bofetada e apenas cubra as feridas com maquiagem quando sair a alguma festa chique!
O sujeito ganhou um salário e foi assaltado na esquina? É só entregar o dinheiro para o ladrão e dizer "vá com Deus".
Tudo isso tem que ser aguentado como um holocausto cotidiano.
A ideia é, sob o pretexto de que existe vida espiritual, a pessoa desperdiçar uma encarnação com desgraças, esperando por algum prêmio na volta ao mundo espiritual.
Isso é um grande desrespeito, pois se joga fora um período de cerca de 80 anos, talvez menos, sofrendo as piores coisas, mais esmagando a alma do que confortando-a.
O problema é que até agora não há sequer uma hipótese que considere "com alguma probabilidade" o "mundo espiritual" concebido pelo "espiritismo" brasileiro.
O próprio Allan Kardec já advertiu que o mundo espiritual nada tem daquilo que as pessoas supõem em suas visões terrenas.
Daí ser engraçado o "espiritismo" brasileiro, tão "desapegado" da matéria, conceber um "mundo material" no além-túmulo, em que espíritos fazem até ato sexual!
O "espiritismo", agindo dessa forma, está cometendo algo de extrema gravidade.
Além de defender que pessoas desperdicem anos com desgraças, supõem uma "vida futura" na qual não há uma ideia sequer cogitável.
Isso é cruel. Uma perversidade sem tamanho.
Ter que aguentar desgraças crescendo como bola de neve, em troca de um prêmio póstumo sem a menor ideia do que será, como será e se realmente haverá, é grave.
É como se esperássemos por alguma coisa amorfa.
Isso não pode ser benefício. Aguentar o pior à espera de algo incerto é cruel.
Isso porque, no retorno ao mundo espiritual, o infeliz pode não encontrar a tal "bênção futura" prometida.
Imagine você competir como um condenado, como se estivesse num treinamento militar.
E aí lhe dão um prêmio numa caixinha, e dela só sai uma cobrinha de pano. Como numa competição no Programa Sílvio Santos.
A decepção será enorme.
Daí não fazer diferença aguentar desgraças e depois ficar decepcionado. A alegria já foi destruída há tempos.
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