(Por Demétrio Correia)
O "espiritismo" se difere, no aspecto negativo, das diferentes religiões existentes no Brasil.
Difere pela desonestidade doutrinária e pelas contradições e confusões que criou.
A partir de Francisco Cândido Xavier, tudo isso veio à tona.
Não podemos ver no "espiritismo" uma doutrina segura de ideias consistentes.
A "água com açúcar" doutrinária das últimas décadas até serve para tranquilizar e consolar seus seguidores, de forma bem relativa.
Mas não espere isso uma verdadeira doutrina de esclarecimento e coerência.
Nem se os "centros espíritas" vierem com videoclipes cheios de crianças pobres sorrindo, paisagens floridas, céus azuis e até o fundo do mar com lindos peixinhos.
Uma coisa é o agrado, outra é a coerência.
Vejamos a seguinte situação.
Existe uma casa bagunçada, com vazamento nos canos, fiação elétrica solta, baratas e ratos circulando livremente.
Se no entanto as paredes da casa são bonitas, você vai dizer que a casa está organizada?
Da mesma forma, é uma doutrina religiosa cheia de confusões.
Comete desonestidade doutrinária quando abraça as ideias do igrejeiro Jean-Baptiste Roustaing, mas jura de pés juntos que é "rigorosamente fiel" a Allan Kardec.
Cria uma mediunidade de faz-de-conta na qual os mortos nem precisam se comunicar, o "médium" fala e pensa por eles.
Vale até "psicografia" atribuída a Fidel Castro defendendo o governo Michel Temer e tudo é aceito porque a mensagem pede "a união fraterna em Jesus Cristo".
Isso é coerência?
Só porque as palestras são cheias de cerimônias e formalidades e os palestrantes falam de maneira educada e serena?
Não. Isso em si não traz coerência.
Muitas ideias absurdas foram veiculadas no "espiritismo" sob o pretexto da "caridade".
Allan Kardec foi quem mais avisou sobre isso. E dá pena os deturpadores brasileiros bajularem tanto o pedagogo francês.
Há muita traição aos postulados de Kardec e isso não é coisa só de "peixe pequeno".
São justamente os "peixes grandes", a partir dos próprios Chico Xavier e Divaldo Franco, que cometem as piores e mais preocupantes traições.
Coerência não é dizer "somos irmãos", "desejemos a paz", "vamos trabalhar a esperança".
Isso apenas é um repertório de mensagens agradáveis, espécie de água com açúcar em forma de palavras.
A realidade é muito complexa para nos preocuparmos com esse apelo, se os fatores que condicionam as tensões e os conflitos humanos continuam sem solução.
Muito fácil "eu" ceder das minhas necessidades, mas o palestrante "espírita", que esquece de ser o seu "eu", ignora isso.
Ele pede para outros aceitarem o sofrimento, mas ele mesmo não aceita o sofrimento quando se dirige a ele.
Ele sempre fala como se o "eu" de nós, pobres mortais, tivesse que abrir mão até do prazer e se alegrar por nada, ou talvez pelo pior.
Mas o "eu" do palestrante "espírita" se dissimula no "impessoal", pois ele está cobiçando os tesouros que supõe existirem no Céu.
O "espiritismo" defende o sofrimento oferecendo prêmios que supõe existirem no mundo espiritual.
Isso não é coerência. É ilusão.
A doutrina igrejeira é marcada por tanta confusão que é impossível que o "espiritismo" brasileiro seja reduto de bom senso e coerência.
Onde há confusão, a coerência não encontra morada.
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