(Por Demétrio Correia)
Os recentes e intensos retrocessos sociais mostram que o Brasil está dominado de espíritos surpreendentemente atrasados.
A violência cometida até pelas elites, a falsidade acima dos limites, a corrupção fora dos clichês do imaginário popular, o obscurantismo religioso.
Além disso, temos um governo na República que desmonta as conquistas históricas que as classes trabalhadoras obtiveram às custas de muito sangue.
Nas redes sociais, a onda de humilhações, ameaças e ofensas praticadas por internautas que acreditam na impunidade absoluta a eles.
Práticas de machismo sanguinário, racismo e homofobias em que os criminosos saem triunfantes.
Na trilha sonora, o pior da música brasileira: "funk", o tal do "sertanejo", e o "neo-forró" que só fala de bebedeiras e brigas amorosas.
O Brasil está muito, muito atrasado.
E, para piorar, o "espiritismo", tão tido como "esclarecedor" e "progressista", está caminhando para ser a versão rediviva do Catolicismo da Idade Média, introduzido no Brasil pelos jesuítas.
Isto é fato: espíritos de jesuítas sempre foram evocados para "proteger" as "casas espíritas".
Isso a partir de Francisco Cândido Xavier, que atraiu para si a influência do retrógrado Padre Manuel da Nóbrega, que virou Emmanuel.
E, de uma maneira diferente, o Máscara de Ferro, obsessor de Divaldo Franco, usurpou o nome da sóror Joana Angélica e se passou por ela, usando o pseudônimo Joana de Angelis.
A cada vez mais o "espiritismo" comprova estar voltado à Teologia do Sofrimento do Catolicismo medieval.
Apelos para "aceitar e amar o sofrimento" se tornam cada vez mais explícitos.
Claro que, no seu malabarismo das palavras, os "espíritas" tentam desconversar e desmentem até o que disseram de forma taxativa na véspera.
"Não, eu não falei para amar desgraças, para ficar sentindo ódio de si mesmo. Eu apenas quis dizer que o sofrimento é um aprendizado, um desafio!", enrola o palestrante.
O próprio "espiritismo", em suas pregações, atraiu para si espíritos de aristocratas romanos e sacerdotes medievais.
Com seu moralismo, atraiu mais gente: escravocratas, latifundiários, macartistas, justiceiros e gente ainda mais perversa.
E muitos se iludem que eles são barrados nas "casas espíritas".
Principalmente quando tocam as tais musiquinhas "espíritas", com vozes doces cantando ao som do violão.
É aí que os espíritos perversos permanecem, e ficam quietinhos, alegres.
Eles são os que mais se sentem atraídos quando os palestrantes falam toda hora em "amor", "fraternidade" e "caridade".
Porque quem fala demais nisso é porque não pratica.
E o "espiritismo" é apenas consequência, mas também causa, de toda essa fixação de espíritos atrasados no cenário "paradisíaco" do Brasil.
Consequência, porque é fruto de um rol de dissimulações, falseamentos e manipulações dos mais tendenciosos.
Causa, porque é uma religião-porteira, que não é a mais popular do Brasil mas influi na deterioração do "espírito do tempo" (olha o trocadilho) da sociedade.
Acaba atraindo espíritos traiçoeiros que, depois, estão lá no Congresso Nacional desmontando direitos trabalhistas e promovendo a infelicidade de muita gente.
As pessoas fazem tratamento espiritual para pedir ajuda para resolver dificuldades pesadas e voltam contraindo mais azar.
Isso só é bom para uma coisa: para nos arrependermos de atribuirmos tanto mal agouro a simpáticos gatos pretos.
E quanto passar sob escadarias pode ajudara desviar, por exemplo, da lama diante das calçadas ou de automóveis desgovernados.
Um livro de Emmanuel é, sim, fonte de mau agouro.
O "espiritismo" é moralista, ultraconservador e suas energias maléficas, frutos de suas próprias contradições, acabam pesando mal para quem não compartilha desse ultraconservadorismo, ainda que por mera tolerância.
E por que o Brasil, como um todo, atrai tanto espíritos atrasados?
Isso vem do Brasil colonial, quando o país virou um "depósito de lixo" de Portugal.
O Brasil sempre foi um local para degredo de vagabundos, mendigos, prostitutas, mas também ladrões, desordeiros e assassinos.
Criou um "modus operandi" que até hoje influi de forma nociva à nossa população.
E o saudosismo em relação aos tempos aristocráticos do passado, uns evocando a Era Geisel, outros o período anterior à chegada da família real portuguesa em 1808, outros citando experiências estrangeiras como o nazismo e o macartismo, é ilustrativo.
Hoje os espíritos atrasados estão tentando não só retomar, mas radicalizar seu protagonismo no Brasil do presente e do futuro.
Espíritos apegados ao passado, para os quais o Brasil tem que ser uma versão ainda mais radical dos tempos retrógrados.
E isso é consolidado pelas estruturas de privilégios sociais existentes, em que os detentores de vantagens sociais são pessoas dotadas de algum sério retrocesso social.
São privilégios que variam do porte de arma ao prestígio religioso, passando pelos já manjados privilégios da fama, do diploma, da toga, do poder político, da fortuna, do comando empresarial.
O topo da pirâmide social que atua no Brasil, brasileiro ou estrangeiro, é dotado da mais fétida podridão.
Mas as pessoas ainda se apegam a esse topo, como se acreditasse em sua própria restauração.
O Brasil, no entanto, só tende a agravar a crise, quando não se desapegar a essas estruturas do status quo.
Temos que abrir mão até de ídolos religiosos e suas palavrinhas doces e aprender a nos desapegar do supérfluo, do inútil e do que é prejudicial.
Porque, até agora, só nos desapegamos daquilo que mais precisamos. Criamos nossa própria miséria, deixamos lacunas em nossas vidas que não podem mais serem preenchidas.
Enquanto isso, preservamos o nocivo, o supérfluo, o inútil, com o desespero que quem tem medo de perder tudo isso.
Nos apavoramos quando o fungicida extermina o mofo do alto da parede. Nos irritamos quando temos que abrir mão do supérfluo e ainda ofendemos seriamente alguém por isso.
É hora de mudarmos essa visão, antes que o Brasil, como um todo, seja soterrado pelo topo da pirâmide que se apodrece de maneira irremediável.
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