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"Bondade" não compensa desonestidade doutrinária do "espiritismo" no Brasil

(Por Demétrio Correia)

As pessoas que dizem que o "espiritismo" brasileiro é deturpado, mas "vale pela defesa da caridade" acham que o amor "permite tudo".

Acham que ações aparentemente filantrópicas podem justificar toda a deturpação.

Os questionadores da deturpação espírita até se resignam com a aberrante figura do "médium" que prega o igrejismo, mas que é "bondoso" e "ajuda muita gente".

Sabe-se que esse "ajuda muita gente" é bastante duvidoso, sobretudo se vermos a dimensão da humanidade.

Ajudando 10 mil pessoas num grupo de, digamos, 10 milhões, é um número medíocre.

10 mil só pode ser "muita gente" em relação, por exemplo, a 100. Mas, em relação a milhões, é pouca coisa.

Se isso já é medíocre para dar crédito à "imensa bondade" que os deturpadores do Espiritismo fazem, imagine então a gravidade da deturpação.

Trata-se de uma desonestidade em relação ao trabalho de Allan Kardec.

Algo que não foi feito sem querer, porque os deturpadores o fizeram com centenas de livros e palestras, espalhando ideias contrárias ao pensamento de Kardec para um grande público.

Não dá para dizer que a "bondade" compensa essa desonestidade doutrinária.

Uma amostra dessa desonestidade é que Allan Kardec nunca defendeu as teses de crianças-índigo ou colônias espirituais.

Quanto às crianças-índigo, Kardec rejeita a tese e não iria fazer uma "discriminação positiva" de espíritos dotados de alguma qualidade excepcional.

O Codificador também avisou que os espíritos que habitam a terra possuem uma mesma natureza evolutiva, só variando para mais ou para menos em poucos níveis.

Em outras palavras, Kardec disse que não há espíritos de máximo grau evolutivo na Terra, planeta ainda marcado por retrocessos sociais profundos.

Não há ambiente para espíritos de máxima evolução se alojarem, como espíritos intuidores ou como encarnados eventuais.

Além disso, o tão adorado mito de "criança-índigo" (ou "cristal", "estrela" ou "arco-íris") é uma farsa esotérica que, no exterior, serve para alimentar as fortunas de pretensos gurus de auto-ajuda.

Um sensacionalismo sem pé nem cabeça, que aqui é visto como "profecia dos novos tempos".

É como uma patriotada religiosa, na qual os "espíritas" esperam por um brasileiro que soasse como um arremedo de Jesus de Nazaré.

Esperam não necessariamente alguém dotado de coerência intelectual e grandeza moral que teve Jesus em seu tempo, mas um igrejeiro supostamente associado a ideias de "amor e solidariedade".

Quanto às colônias espirituais, Allan Kardec afirmou que o mundo espiritual não é da maneira como concebemos a partir de nossas impressões terrenas.

Em outras palavras, Kardec disse que não há uma ideia plausível do que pode ser realmente o mundo espiritual, do qual só admitimos, por lógica filosófica, a sua provável existência.

Até agora os "espíritas", atuando na margem da Ciência Espírita, só estabeleceram, no "achismo" a noção de "mundo espiritual" conforme os seus caprichos materialistas.

Pior: acabam usando isso como desculpa para se defender o sofrimento humano, o holocausto diário que toma conta do cotidiano de muitos infortunados.

Pedem para o sofredor aceitar o sofrimento e se conformar em ser "brinquedo" das adversidades, tendo em vista os "benefícios da vida futura".

Aí entram as "colônias espirituais", concebidas visualmente como imponentes condomínios de luxo, com hospitais desenhados como se fossem shopping centers.

Tudo parecendo propaganda de grandes complexos habitacionais, belos condomínios que se vê em destaque nas primeiras páginas dos classificados dos grandes jornais.

Isso não é bondade. Aliás, um conceito de lesa-doutrina, definir uma "vida espiritual" mais materialista do que a vida na Terra.

E isso também faz com que se defenda que pessoas desperdicem encarnações aguentando desgraças e dificuldades intransponíveis a todo momento.

"Que é um sofrimento de décadas diante da eternidade da vida futura?", chegam a dizer.

Isso tudo é contrário ao pensamento de Allan Kardec, que nunca foi um propagandista da desgraça humana como são seus supostos discípulos no Brasil.

E camuflar essa traição doutrinária com "bondade" e ilustrações de crianças pobres sorridentes, paisagens floridas, céus azuis ensolarados e desenhos de coraçõezinhos fofinhos é inútil.

Isso não traz validade para o "espiritismo" brasileiro.

A "filantropia" não é um atenuante para transformar os traidores de Kardec em seus "discípulos fiéis".

Se Kardec afirmou "Fora da caridade não há salvação", a honestidade é uma parte integrante dessa caridade.

Se há desonestidade doutrinária, sobretudo pela pregação dos festivos "médiuns" em culto às suas personalidades, eles não terão salvação alguma como representantes da Doutrina Espírita.

Até porque a "caridade" se torna um artifício de promoção pessoal.

A "caridade espírita", feita no Brasil, ajuda muito pouca gente, não ameaça os privilégios das elites, não faz o povo pobre obter prosperidade e dignidade plenas e definitivas.

Ela só serve para levar o "médium" para as alturas, como um ídolo religioso que só vive da adulação de seus seguidores, como um rei paparicado por seus súditos.

Portanto, essa "bondade" que tanto protege os "médiuns" não os atenua na infeliz responsabilidade de cometerem uma grande traição ao legado trabalhoso e cansativo de Allan Kardec.

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