(Por Demétrio Correia)
Há uma corrente dos defensores de Francisco Cândido Xavier que defende a teoria da "profecia da data-limite".
Defendida por Geraldo Lemos Neto, Juliano Pozati e outros, ela se refere a um suposto sonho de Chico Xavier, tido em 1969 mas relatado a Geraldo em 1986.
Nesse sonho, posterior à data da viagem de astronautas da NASA à Lua, havia uma reunião com as "autoridades do universo".
Supostos governantes de diversos planetas do Sistema Solar, incluindo Jesus Cristo, representando a Terra, e assistidos por Emmanuel e Chico Xavier, eles viam a Viagem à Lua com preocupação.
O medo era de que isso estimulasse a corrida espacial e causasse a Terceira Guerra Mundial.
Naquela época, havia a Guerra Fria, entre a então União Soviética e os Estados Unidos da América.
Chico Xavier, que era de direita, fato confirmado com suas próprias palavras no programa Pinga Fogo, em 1971, incluindo a defesa da ditadura militar, se preocupava com isso.
No sonho, Jesus havia declarado uma "moratória" à Terra, dando 50 anos, contados a partir de 1969, para haver uma recuperação moral da humanidade terrestre.
Se, com o fim deste prazo - será em 2019, daqui a dois anos - , a humanidade não se pacificar e houver conflitos diversos e atos terroristas, a Terra passará por catástrofes naturais inimagináveis.
Segundo o relato de Geraldo, o "velho mundo" seria sacudido por intensas catástrofes naturais que deixariam o Hemisfério Norte praticamente inabitável.
Seriam desde enchentes, agravadas pelo derretimento do gelo polar, até explosões vulcânicas e terremotos de alta intensidade.
A "profecia", no entanto, mostra sérios erros de abordagem sociológica e geológica.
O Chile, região de intensa atividade sísmica e vulcânica e integrante do mesmo Círculo de Fogo do Pacífico que o Estado da Califórnia, nos EUA, a Nova Zelândia e o Japão, seria poupado de tais catástrofes.
A tendência geológica é que o país sul-americano sumisse do mapa como os demais. Se a Califórnia desaparecesse com tantos terremotos e sob vários maremotos, o Chile teria destino semelhante.
Ignorando a natureza da colonização eslava que já ocorreu no Brasil no século XX, a "profecia" alegava que os eslavos, vindos de regiões frias, se exilariam, diante das catástrofes no Hemisfério Norte, para regiões calorentas do Nordeste brasileiro.
Ignorando a natural sociologia do povo dos EUA, que, diante das referidas catástrofes, se mudaria para o Rio de Janeiro e São Paulo e, quando muito, para o Sul do Brasil, a "profecia" alegou que os estadunidenses iriam fixar residência na região Amazônica e no Acre.
Todo mundo sabe que os EUA só recorrem à essa região não para residir, mas para explorar economicamente os recursos naturais, como os antigos colonizadores diante de nossas riquezas.
Uma vez obtidas as riquezas, eles vão embora. E faturam por cima.
A "profecia" não é aceita por todos os seguidores de Chico Xavier.
Uns estranham pelo seu alto grau de "fatalismo", que contradiz a imagem adocicada do mito do "médium" mineiro.
A má repercussão da "profecia" fez até mesmo Geraldo e Pozati mudarem o discurso, enfatizando apenas a necessidade de "promover a fraternidade cristã".
Em todo caso, a "profecia" teve a adesão do "médium" Divaldo Franco, maníaco por datas fixas.
Ele mesmo, em causa própria, estabeleceu datas fixas para o "progresso da humanidade".
Ele escolheu 2052, ano do centenário de sua Mansão do Caminho, e 2057, como bajulação a Allan Kardec, ano do bicentenário de O Livro dos Espíritos.
Mas isso vai contra os ensinamentos de Kardec.
Certa vez, ele comentou que definir datas fixas para acontecimentos históricos é indício de mistificação.
É até gozado que, mesmo com isso, se a gente chama Divaldo de "inimigo interno" do Espiritismo, muita gente choramingue aos soluços.
O próprio Divaldo já reviu esse negócio de "datas fixas" numa entrevista na Espanha, em dezembro de 2016, e "lamentou" que "inventam tantas datas" para o "fim do mundo".
Diante de tantas coisas doidas no "espiritismo", vemos que hoje o mundo está em estado de muita tensão, incluindo o nosso cada vez mais frágil Brasil.
Os defensores da "profecia" ficam indecisos se a "regeneração" virá logo em 2019 ou se será daqui a 40 anos.
Dizem, contraditoriamente, que "está havendo regeneração", mas depois desmentem a si mesmos dizendo que "ainda existem conflitos".
Mesmo que a humanidade pudesse melhorar no "prazo certo", uma coisa temos certeza.
Chico Xavier e Divaldo Franco NUNCA terão razão em suas supostas previsões, digamos, predições.
Isso por dois motivos.
Um, porque a humanidade se progredirá de forma bem diferente do que os dois imaginaram.
Outro, porque eles não são os donos da verdade, e atribuir razão a eles seria dar a eles a propriedade do futuro.
Logo eles, no fundo duas figuras muito antiquadas, ultrapassadas e ultraconservadoras.
O mundo continuará dando suas voltas e os dois "médiuns" cairão no mais merecido esquecimento.
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