(Por Demétrio Correia)
O "espiritismo" brasileiro nunca professou seu roustanguismo com tanta intensidade quanto nos últimos tempos.
A "fase dúbia" de 1975 tentou disfarçar a influência de Jean-Baptiste Roustaing (J. B. Roustaing) com falsas promessas de recuperação das bases espíritas originais.
Foi tudo em vão. O roustanguismo, "sem Roustaing e com Allan Kardec", tornou-se muito mais forte e mais intenso.
É como naqueles desenhos animados em que se amarra a mangueira para impedir a saída de água.
A água pressiona até estourar e sair com maior intensidade do que antes.
O roustanguismo cresceu mesmo quando Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco comandaram uma falsa recuperação dos postulados espíritas originais.
Logo eles, Chico Xavier e Divaldo Franco, roustanguistas de formação!
Espertos, eles pegaram carona na crise do roustanguismo e só se autoproclamaram "kardecistas autênticos" para agradar e bajular espíritas autênticos que combatiam a deturpação.
Quem não conhecia os bastidores do "movimento espírita" achava que poderia haver fraternidade entre o Bom Senso e o Contrassenso, entre os postulados de Kardec e um roustanguismo muito mal disfarçado pelo igrejismo brasileiro.
Mas, com todas as citações levianas do respeitado nome de Kardec e de nomes como o espírito Erasto, personalidades científicas e ativistas autênticas etc, o "espiritismo" não pode fugir de sua realidade.
A realidade revela: Espiritismo, no Brasil, é herdado de Jean-Baptiste Roustaing e seu Os Quatro Evangelhos.
Não há como escapar disso.
Roustaing está todo em Chico Xavier, em Divaldo Franco, em João de Deus, em José Medrado, nos "centros espíritas", nos periódicos "espíritas", na cinematografia "espírita".
Se dissessem que O Filme dos Espíritos é inspirado em Os Quatro Evangelhos de Roustaing, faria mais sentido.
Naquele filme, de André Marouço e Michel Dubret, Allan Kardec nem como figurante apareceu, quanto mais como "argumentista original", como disse a propaganda enganosa do filme de 2011.
Queiram ou não queiram, ninguém segue as ideias renegando seu idealizador.
De que adianta mil desprezos a Roustaing, se suas ideias são seguidas até com muito entusiasmo?
E de que adianta mil bajulações a Kardec, se as ideias deste são deturpadas, distorcidas ou desdenhadas?
O conteúdo pouco atraente diz muito do que mil embalagens.
Se a embalagem é "kardecista" e o conteúdo, roustanguista, não há como definir o "espiritismo" brasileiro como identificado com Allan Kardec.
Sua identificação é, para o bem e para o mal, com o roustanguismo.
Assumir isso é doloroso, mas é muito mais sincero, porque as piores dores são aquelas que surgem quando cai a máscara do pretensiosismo.
Comentários
Postar um comentário