(Por Demétrio Correia)
Deixemos de lado deslumbramentos infantis desnecessários.
Abrindo mão de paixões religiosas, vemos que muitos dos "heróis" que somos induzidos a idolatrar apresentam pontos bastante sombrios.
O caso dos ditos "médiuns" brasileiros é um exemplo no qual temos que largar as antigas paixões da fé e do deslumbramento que levam à complacência fácil aos piores erros.
Não vamos aqui nos ater a todos os erros dos "médiuns", nos limitando, nesta postagem, apenas a um deles, de séria e extrema gravidade: o "culto à personalidade".
Ninguém percebe que os "médiuns" brasileiros vivem do culto à personalidade.
Até porque esse culto é dissolvido, como sólido se diluindo no líquido, por imagens agradáveis de crianças pobres e velhinhos doentes associadas a esses ídolos religiosos.
O culto à personalidade é o primeiro dos graves equívocos que corrompem a ideia do "médium" no Brasil.
Nos tempos de Allan Kardec, o médium poderia ser até uma figura mais sisuda e quase anônima, desprovida de algum prestígio.
Mas era uma função exercida de maneira mais honesta e sem celebridade, em que o sentido de humildade não tem o sentido distorcido que tanto se usa no Brasil, que é o de "estar ao lado dos humildes".
O médium dos tempos de Kardec era discreto e apenas fazia seu trabalho de intermediar o contato dos mortos com os vivos.
Aqui esse contato ocorre no faz-de-conta, pela "mentiunidade", porque os "médiuns", que existem em número maior do que a realidade poderia esperar, não têm concentração para receber mensagens do além.
Mas isso é um outro assunto, e estamos aqui falando de culto à personalidade.
É chocante atribuir aos "humildes" Divaldo Pereira Franco e Francisco Cândido Xavier qualquer ato de culto à personalidade, puxado por eles ou por seus seguidores.
A pretensa aura de "humildade" e "simplicidade" serve como um verniz para disfarçar essa atitude um tanto leviana e fútil, de vaidades pessoais jamais admitidas por ninguém.
As pessoas pensam que culto à personalidade só existiu naqueles tiranos do nazi-fascismo ou dos regimes comunistas do século XX que faziam desfiles pomposos em praças de grande extensão.
Nesses desfiles, o tirano de plantão tinha seu rosto exibido em uma moldura gigante, para ostentação ao público que os assistia.
Culto à personalidade não é só isso.
Vemos o sentido de "médium" ser corrompido no Brasil de maneira bastante leviana.
Nos tempos de Kardec, o médium era, como o nome dizia, "intermediário", um mero "canal" de comunicação entre o emissor (morto) e o receptor (vivo).
Aqui, esse processo comunicativo é distorcido, invertendo os papéis do "canal" e do "emissor".
O morto passa a ser o "canal" para as pregações "fraternas" trazidas pelo suposto médium.
Este deixa de ser intermediário. Vira centro das atenções, vira grife, e não raro "dono" de certos mortos.
A atriz Márcia Brito, mãe do falecido Ryan Brito, cometeu um sério equívoco que deixaria Allan Kardec envergonhado.
Ela havia escrito em sua página pessoal para os céticos que duvidarem da mensagem "mediúnica" de um suposto médium carioca que prestassem atenção aos trabalhos assistenciais dele.
Como diz o ditado, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".
Trabalhos assistenciais não garantem a um suposto médium que ele seja autêntico na mediunidade.
Ele pode dar sopas para os pobres e ser um farsante em obras mediúnicas.
Da mesma forma que nenhum político corrupto vira honesto porque ofereceu cestas básicas à população carente durante sua campanha eleitoral.
Além disso, os "trabalhos assistenciais" acabam sendo uma propaganda do "benfeitor", o que sugere um culto à personalidade.
No caso de Chico Xavier e Divaldo Franco, os "maiores médiuns do Brasil", a situação se agrava quando os dois se encanaram de bancar os dublês de pensadores e pretensos filósofos.
Kardec havia alertado sobre os falsos sábios. Aliás, não apenas ele, mas Jesus de Nazaré.
Os dois, na verdade, ficariam envergonhados com Chico e Divaldo, e identificariam neles os falsos sábios de que tanto descreveram em seus respectivos tempos.
Isso é muito irresponsável.
Ainda mais quando põe a "bondade" em jogo. A "bondade", longe de ser um "alimento para a alma" dos necessitados, acaba sendo, isso sim, um alimento para as vaidades pessoais dos supostos médiuns.
Bancando os pseudo-sábios, eles ficam ainda muito menos médiuns, viram os centros das atenções.
Viram anfitriões de eventos "espíritas", são atrações principais em palestras, viram astros, contraem estrelismo, acumulam aplausos e prêmios.
Portanto, os "médiuns" brasileiros não são médiuns.
E causariam vergonha e indignação em Jesus e Kardec.
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