(Por Demétrio Correia)
Você considera Chico Xavier "maior símbolo de amor e bondade" do Brasil?
Você define Divaldo Franco como "maior filantropo do Brasil"?
Você endeusa José Medrado, que pinta quadros pseudo-mediúnicos, e João de Deus, "médium cirúrgico" com medo de fazer cirurgia de si mesmo?
Agradeça o jornalista inglês Malcolm Muggeridge.
Católico, o jornalista da BBC de Londres realizou um documentário sobre Madre Teresa de Calcutá.
Chamava-se Algo Bonito para Deus, em inglês Something Beautiful for God, e foi lançado em 1969.
O documentário foi pioneiro no marketing da caridade e criou os paradigmas da bondade espetacularizada, feita mais para impressionar plateias do que ajudar os necessitados.
Graças ao documentário, Madre Teresa foi promovida a uma imagem de "santa", que garantiu a canonização pelo Vaticano, de maneira bastante risível.
Afinal, para a canonização, o Vaticano determina a ocorrência de, pelo menos, dois milagres.
O primeiro milagre atribuído a Madre Teresa foi contestado.
Uma indiana que, dizia-se, sofria de câncer e teria sido curada pela medalhinha de Madre Teresa colocada no seu peito, na verdade sofria um tumor benigno e foi curada mediante rigoroso tratamento médico.
Veio o segundo milagre, aparentemente acontecido, vejam só, no Brasil.
Um engenheiro de Santos passou a lua-de-mel com a esposa, no Rio Grande do Sul, quando se sentiu mal e teve que voltar à cidade paulista.
Supostamente lhe foi atribuído um coágulo cerebral em estágio terminal, no qual se optaria por uma cirurgia arriscada e de difícil êxito.
No dia da operação, segundo se alega, o paciente acordou, se levantou e tomou o café, como se nada tivesse acontecido.
Desconfia-se de uma intoxicação alimentar que os médicos do hospital de Santos, de administração católica (Hospital São Lucas), atribuíram como "câncer terminal" para garantir o lobby de Madre Teresa.
Afinal, a esposa havia pego uma medalhinha em conversa com um pároco na cidade.
O segundo milagre é suspeito, mas pesou para a canonização de Madre Teresa, enquanto o primeiro foi posto debaixo do tapete.
E isso depois de reportagens e teses acadêmicas revelarem que a caridade de Madre Teresa nunca passou de encenação.
Ela deixava os assistidos em condições subhumanas e ia fazer turismo junto com tiranos e magnatas corruptos, arrancando dinheiro que iam não para os pobres, mas para a cúpula do Vaticano.
Mas o marketing funcionou.
E foi adotado no Brasil, para renovar o mito de Francisco Cândido Xavier, que era trabalhado pela FEB de maneira confusa, à mercê de muitos escândalos, das polêmicas literárias ao caso Otília Diogo, a farsante que se fez passar pelo espírito materializado de Irmã Josefa.
O mito de Chico Xavier seria relançado de maneira "mais limpa", e a parceria televisiva não era mais com a TV Tupi, que antes blindava o "médium", mas com a Rede Globo.
Sim, a suspeita Rede Globo reinventou Chico Xavier, usando o roteiro de Malcolm Muggeridge usado para "santificar" Madre Teresa.
Esse roteiro dá até para ser enumerado, em descrições breves.
O "filantropo" chega a uma comunidade e é acolhido pela multidão.
Ele então carrega bebê no colo, cumprimenta as pessoas, caminha para ver velhos doentes e acaricia suas cabeças, fala com velhinhas e entra numa "casa de caridade".
Lá o "filantropo" cumprimenta outros velhinhos doentes, deitados na cama, vê crianças pobres, geralmente negras ou mestiças, tomando sopa e passa na mão da cabeça de uma delas, perguntando se está gostando do alimento.
Depois de verificar o aposento, ele senta numa mesa de palestra para, diante dos dirigentes da "casa de caridade" e das câmeras, falar frases de efeito.
Geralmente frases de como aguentar o sofrimento para obter as graças futuras.
Frases sem muito valor, mas que servem para ilustrar memes "filosóficos" das redes sociais.
Se observarmos como está o nível intelectual e moral nas mídias sociais, faz sentido ver isso como "filosofia".
O Brasil é o paraíso da pós-verdade, com a desinformação crônica que toma conta da maioria das pessoas.
Comentários
Postar um comentário