(Por Demétrio Correia)
O "espiritismo" brasileiro, sabemos, é deturpado.
A doutrina preferiu ser mais uma forma paralela e informal de Catolicismo.
Aproveitou os conceitos medievais descartados pelos católicos.
Mas, destes, descartou ritos e práticas considerados "pomposos demais" e dogmas "excessivamente fantasiosos".
Tornando-se uma religião conservadora, apesar da roupagem "moderna" e "intelectualizada", o "espiritismo" brasileiro cria hábitos estranhos e nem sempre assumidos.
É o caso do desprezo à individualidade humana.
Ele se dá, pelo menos, em duas formas principais.
Uma é relacionada às mensagens ditas "mediúnicas", e serve para tentar afastar acusações de fraudes.
A desculpa da "linguagem universal do amor".
Ou a falácia de que o suposto espírito estava tão "tomado de sentimentos de amor e fraternidade" que se esqueceu do seu próprio talento.
Outra é a tese dos "resgates coletivos".
Nela um grupo de pessoas que sofre um infortúnio é tido como responsável por um "destino comum", único a todos.
É o dogma do "gado expiatório".
Se você, por exemplo, está em Bagdá, numa fila para comprar carne, e ocorre um atentado a bomba que mata todos os cidadãos presentes, todos estariam "cumprindo um destino comum".
É a tese do "resgate coletivo".
Pessoas que nem sequer trocaram um cumprimento, se tornam, num piscar de olhos, supostos companheiros de uma longa trajetória de reajustes morais.
A tese tem valor bastante duvidoso.
E tem muito a ver com o juízo de valor dos "espíritas".
E entra em contradição com as responsabilidades individuais ante os delitos morais cometidos.
As duas coisas mostram, no "amor" e na "dor", que o "espiritismo" condena a individualidade humana.
Daí seu desprezo para a vida material e as necessidades individuais.
Acham que a individualidade é uma frescura materialista.
O indivíduo tem que viver a vida "segundo as imposições do Alto" e só lhe resta sorrir e aguentar tudo com paciência.
Desejos, necessidades, prazer?
Para o moralismo "espírita", são apenas caprichos da "cupidez" e do "sensualismo".
E logo quando pessoas que fazem tratamento espiritual para crescer na vida acabam contraindo oportunidades fúteis de "realização pessoal".
A pessoa quer um emprego diferenciado porque não quer ficar "nadando em dinheiro" e exercer talentos individuais.
Acaba contraindo um emprego qualquer nota, de preferência com patrão tirânico ou corrupto, cujo único benefício (e olhe lá!) é algum dinheiro a mais no bolso.
Só consegue "expressar" seus talentos quando eles alimentam as vaidades e o arrivismo do patrão medíocre ou cruel.
Na vida amorosa, há queixas de homens que querem mulheres com personalidade, inteligência e discrição, porque não querem sucumbir ao sensualismo.
Mas atraem moças de perfil mais fútil, que só inspiram um sexo mais grotesco, ou seja, sensualismo puro.
O "espiritismo", condenando a individualidade humana, acaba prejudicando a evolução pessoal do indivíduo.
Tudo porque a doutrina igrejista prefere seus moralismos e dogmas severos.
E isso sob o pretexto da "verdadeira vida", como se não pudéssemos interferir na vida material em seu breve prazo de duração.
E aí os "espíritas" se arrogam dizendo: "Se desperdiçou uma encarnação, não faz mal, tem outra para recomeçar".
Mas cada encarnação é única e as situações são completamente diferentes.
O "espiritismo" acaba tratando o povo como se fosse gado.
Depois os "espíritas" não gostam quando são chamados de conservadores. Devem reagir com sua habitual choradeira.
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