(Por Demétrio Correia)
Já foi dito que o Brasil não pode, não deve e não tem condições para ser o tal "Coração do Mundo" e "Pátria do Evangelho".
Seria transformá-lo numa teocracia que se revelará sanguinária.
Seria botar mais um país para se tornar um império mundial.
E o Brasil, reduzido a cacos desde 2016, não seria capaz de tão engenhosa tarefa.
Mas o que poucos se interessam em admitir, é que o engodo que é o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho não foi escrito pelo espírito de Humberto de Campos.
A linguagem em nada lembra o estilo dele.
Quando muito, um plágio grotesco extraído de... um livro de sátira humorística (!).
Sim, a alegação de que o "espírito Humberto de Campos" teria escrito um livro destes só pode ser uma piada, mesmo.
Ele foi vítima do Brasil Anedótico que endeusa farsantes como Chico Xavier.
Além disso, a patriotada literária que é este livro teria sido, na verdade, combinada com o governo Getúlio Vargas, que havia instaurado o Estado Novo, num jogo de interesses.
Criava-se um livro que atribuísse ao Brasil um "papel mais nobre", aproveitando o clima nacionalista imposto na época.
Era a condição do governo fornecer subsídios estatais para a editora da FEB.
Além disso, era a garantia para as "casas espíritas" não serem invadidas pela repressão policial.
Até aí, nada demais.
Mas sabemos que se trata de uma obra mistificadora.
Falsamente "reveladora", a obra ufanista do pseudo-Humberto nada acrescenta à mentalidade tosca dos livrinhos de História do Brasil impostos às escolas.
Consta-se que a própria abordagem histórica do Brasil veio de um livrinho escolar guardado por Chico Xavier em sua biblioteca pessoal.
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho é, como a bibliografia supostamente mediúnica de Chico Xavier, uma colcha de retalhos fraudulenta.
Há referenciais de livros da biblioteca pessoal de Chico Xavier.
Há indícios de plágios de trechos parciais de livros consultados.
Há indícios de que Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, co-escreveu tais obras e fez revisão de trechos.
Há indícios de que tais obras teriam sido feitas sob orientação de consultores literários a serviço da FEB.
Outro dado a acrescentar é que Allan Kardec inexiste no livro ufanista, por mais que seja eventualmente citado.
O bom senso em pessoa, Kardec nunca aceitaria que uma nação, construção material que reúne grupos de residências e outros estabelecimentos, se tornaria chefe de outras construções semelhantes no planeta.
Em outras palavras, Kardec via nas nações como loteamentos terrenos sem importância transcendental para todo tipo de messianismo.
Ele achava profecias com datas marcadas ou com países determinados um indício perigoso de mistificação.
Já o livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing, condiz em comparações com Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Roustaing já falava no sonho de sintetizar várias religiões numa só, uma espécie de Catolicismo ecumênico.
E isso se encaixa no livro do pseudo-Humberto.
Embora o rótulo seja "espírita", o livro chiquista também apela para a religião-síntese de Roustaing, por sinal citado na mesma obra.
Em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, cita-se num trecho o "João Batista Roustaing".
Claro que Chico Xavier tentou se passar por surpreso, por vergonha de assumir o roustanguismo que tanto seguiu e adaptou com gosto para a realidade brasileira.
Mas os dois livros inclusive se irmanam, o de Roustaing e o do pseudo-Humberto de Campos.
Até no messianismo igrejista e no sonho de ver o Catolicismo triunfando novamente na Terra, ainda que sob o rótulo de "espiritismo".
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