(Por Demétrio Correia)
Os "espíritas" precisam ser reeducados emocionalmente.
Eles se tornaram vulneráveis à falácia chamada Ad Passiones, o "apelo à emoção".
Antes do resto do mundo, acabaram desenvolvendo a pós-verdade, um repertório de ideias e concepções em que as convicções emocionais e subjetivas valem mais do que a realidade lógica da vida.
Na pós-verdade, mentiras passam a ter status de "verdades indiscutíveis", diante de falsos argumentos que envolvem motivos aparentemente pragmáticos ou causas paliativas supervalorizadas.
Junto à pós-verdade, temos a pós-ética e a pós-lógica.
Na pós-ética, qualquer delito ou corrupção é válido se for feito "pela caridade".
Na pós-lógica, os fenômenos religiosos "sempre escapam" dos "limites da compreensão humana".
No caso da pós-ética, admite-se até irregularidades na psicografia ou na pictopsicografia (pintura mediúnica), por exemplo, em nome das "mensagens de amor" e do "pão dos pobres".
Nos esquecemos que os trotes telefônicos de traficantes e golpistas cometendo estelionato também se valem de eventuais "mensagens de amor".
Nos esquecemos que os crimes eleitorais de doações de cesta básica visando a vitória nas urnas também é feita pela "caridade" e pelo "pão dos pobres".
Mas, pelo apelo à emoção trazido pelo "espiritismo", aceitamos coisas semelhantes por causa da "bondade".
E isso é grave, porque sempre se consente com a ação de deturpadores.
Esquecemos que Allan Kardec teve uma trabalheira para desenvolver seus postulados, gastando dinheiro, aguentando ataques pessoais contra ele e se adoecendo seriamente.
Todo o esforço árduo e individual - praticamente só a esposa o apoiava incondicionalmente - para Kardec ter seu legado usurpado e deturpado por supostos adeptos brasileiros.
E há o descaramento dos "espíritas" usarem a "bondade" como escudo para permitir a deturpação.
"Deturpamos o Espiritismo, mas pelo menos trabalhamos a caridade".
E aí temos falácias tomadas do mais completo delirio emocional.
Coisas do tipo: "Que importam a lógica, a coerência, o bom senso, se o que importa é a fraternidade e o amor ao próximo!".
Muitas pessoas acham essa declaração linda, todos deixam de debater a deturpação da Doutrina Espírita e tudo fica como está, porque "o que importa é a fraternidade".
De repente, a "bondade" se torna cúmplice da mistificação, da fraude e da desonestidade em relação ao legado kardeciano.
Fácil trair Allan Kardec o tempo todo, fingir fidelidade a ele e bancar o bonzinho a qualquer preço.
Fácil forjar humildade, quando os holofotes garantem a alta fama e a elevada visibilidade dos ídolos religiosos!
Nem precisa tocar em dinheiro, as elites pagam tudo. Hotel, hospital, restaurante, viagens de avião.
E os brasileiros se mantém numa emotividade viciada que legitima tudo isso.
Os "espíritas" brasileiros se comportam como aquele marido corno-manso, traído mas feliz com a mulher traíra que possui.
Acham que Kardec aceitaria ser traído por seus supostos representantes brasileiros por causa da "bondade" e seus verbetes "lindos": "amor", "fraternidade", "caridade", "solidariedade" e "humildade".
Mas não é bem assim que acontece.
A bondade que se serve à mistificação, à fraude e a deturpação deixa de ser bondade.
Ela se torna maléfica, pelos efeitos que trazem com a enganação e a farsa.
Não se engana as pessoas por amor. E nem pelo pão dos mais famintos.
Quantos casos de cupidez não podem haver sob a roupagem da solidariedade?
Quantos casos de arrivismo não podem haver sob o aparato da humildade?
Precisamos reeducar as emoções das pessoas, ainda apegadas a ídolos religiosos.
A situação é tão grave que, no Brasil, se tem o vício de pensar que só poderemos recuperar as bases originais de Allan Kardec mantendo no pedestal os "médiuns" tomados de culto à personalidade.
Eles, que já corrompem a atividade de médium, deixando de ser intermediários e virando centros de atenção, tomados de estrelismo e bancando dublês de pensadores com suas mistificações.
Houve complacência demais com pessoas como Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco, João de Deus e outros.
Só o caso de Chico Xavier é uma aberração, um arrivista que derrubou obstáculos não porque era "admirável", mas porque soube aplicar o apelo à emoção para seduzir multidões.
E as pessoas não conseguem sair das zonas de conforto dessa emotividade viciada, que mais parece movida por um perigoso entorpecente.
Precisamos abrir mão dessa emotividade viciada, porque nem tudo é como nossos umbigos querem e julgam que o mundo seja.
As paixões religiosas que endeusam Chico Xavier, Divaldo Franco e companhia acabam travando os debates sobre a deturpação do Espiritismo.
Quando se chegam nos problemas mais profundos e complicados, o debate se paralisa na falácia de que os dois "médiuns" são "bondosos".
Nem a suposta bondade deles conta com provas objetivas ou análises imparciais.
Mesmo o faz-de-conta "espírita", pois o "espiritismo" está sempre pronto a dissimular tudo, que tende a dar um verniz "objetivo" à adoração aos dois "médiuns", não esconde essa emotividade viciada.
Abrir mão dessa emotividade pode deprimir muita gente.
Mas, paciência, há exemplos de caridade bem mais consistentes, concretos e confiáveis do que os "médiuns" tomados de estrelismo que mais lembram os velhos sacerdotes extravagantes reprovados por Jesus.
Abrir mão do endeusamento aos "médiuns", arremedos de ativistas e de filantropos e dublês de pensadores, é doloroso para muita gente.
Mas se libertar destes deturpadores da Doutrina Espírita é que é, sim, um ato de coragem e perseverança.
É como abandonar as bonecas da infância que trazem tanta dor, tristeza e mal-estar.
Com o tempo, se verá que deixar de idolatrar os "médiuns" tomados de culto à personalidade fará bem até para entender melhor o legado de Kardec, obscurecido por esses supostos filantropos.
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