(Por Demétrio Correia)
Imagine um anfitrião que convida uma pessoa para passar um fim de semana em sua casa.
Em aviso hospitaleiro, chama-se o referido cidadão para generosa oferta, prometendo uma estadia saudável e animada.
Chegando o cidadão, ele é cumprimentado pelo anfitrião e se instala na casa, pondo seus pertences no quarto e trocando a roupa para usar um traje mais à vontade.
No entanto, ele passa a receber maus tratos.
A cama é quebrada, o colchão, desconfortável. O quarto, mofado e com baratas. O armário, com uma colônia de cupins capaz de devorar até um saco de plástico.
O cidadão é hostilizado pelos familiares do hospedeiro, que o humilham sem dó.
No quintal, um cão rottweiler bem feroz está à solta, e, às vezes, ele chega mesmo a entrar no recinto da casa, ameaçando os presentes.
A comida é péssima, de sabor horrível e feita sem higiene.
No banheiro, não dá para fazer as necessidades biológicas porque o vaso sanitário entope. A torneira abre com facilidade, mas é difícil de fechar.
A televisão exibe a pior programação e não dá para pedir para mudar o canal. Os encrenqueiros da casa, que hostilizaram o hóspede, estão com o controle remoto e reagem com escárnio à solicitação.
Numa conversa supostamente amigável, há uma discussão violenta porque o hóspede quis esclarecer um ponto de vista equivocado de um dos presentes.
A discussão chega ao ponto da agressão física, mas o hospedeiro chega e consegue controlar o conflito.
Dormir é difícil diante da barulheira musical no bar próximo, em que toca aquele jukebox que serve de renda para um grupo de milicianos que domina o bairro.
Uma mulher pouco atrativa, sem higiene, ignorante e de poucas roupas, forçadamente sensual, assedia de maneira grosseira o hóspede, que recusa o assédio, causando revolta nela e nos encrenqueiros.
Com tudo isso, o hóspede sai de casa magoado e assustado, e ainda tem que correr porque o rottweiler foi solto e começa a correr atrás dele como se corresse furioso atrás de um cãozinho indefeso.
Por sorte, o hóspede não foi alcançado pelo feroz cachorro, porque correu a toda velocidade, mesmo carregando o peso da bagagem, e o rottweiler se cansou e deu a volta.
Com essa parábola, imagine se fosse um homem que fez um tratamento espiritual num "centro espírita" e atraísse para si todo tipo de azar.
O "hospedeiro" que acolheu o pobre coitado, que permitiu que este fosse escorraçado pelos infortúnios do azar, não seria responsabilizado por infelizes ocorrências?
Ou a culpa seria do hóspede que, na sua boa-fé, decidiu aderir a um ambiente hostil e cheio de problemas graves?
É muito fácil usar o prestígio religioso para tentar se eximir de culpa, quando o sofredor aguenta desgraças acumuladas contra sua vontade.
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