(Por Demétrio Correia)
Nos últimos anos, a onda de ódio e reacionarismo na Internet desafiou até os mais otimistas da chamada Revolução Digital.
Muitos imaginavam que a Internet representaria um paraíso de progresso social e debate humanista.
Mas ocorreu o contrário.
Há uma onda de reacionarismo, vinda sobretudo de pessoas com surpreendente aparência de "modernos".
Gente que parece universitário comum, surfista, skatista, rapper, é cheio de tatuagens, fala palavrão, são grupos de jovens bem transados, moças e rapazes com o visual na moda.
Tudo isso com um reacionarismo de quem parece ainda viver no século XII, em plena Idade Média.
E o dado chocante é que é um pessoal que fica em casa usando computador ou permanece na bebedeira, pessoas que ninguém julgaria serem do mais extremo reacionarismo. Mas são.
Essas pessoas são "patrulheiros" do estabelecido ou portadoras dos mais canhestros preconceitos sociais.
Defendem de tudo: ônibus "padronizados", rádios pop que se autoproclamam "roqueiras", velhos cantores estrangeiros dos anos 70, vencedores do Big Brother Brasil, artilheiros da Seleção Brasileira de Futebol, políticos do PSDB, mulheres siliconadas.
No conjunto da obra, são reacionários que transitam entre uma inalação de cocaína e a leitura de um livro religioso. Evidentemente, poucos compartilham as duas coisas, mas nelas se encontra gente igualmente reacionária.
Fazem ataques em massa contra quem discordar do que eles defendem e acreditam nas mídias sociais.
Uma moça negra não pode publicar uma postagem com uma foto sua sorridente e mandando boas energias para os amigos, que ela recebe ataques racistas violentos.
Os reacionários chegam até a fazer ataques em grupo para defender uma giriazinha midiática, como a insossa gíria "balada", hoje jargão de fofoqueiros desocupados.
Alguns, mais atrevidos, criam blogs de calúnia e difamação aproveitando, para fins de paródia ou outro uso depreciativo, o acervo pessoal da vítima.
Isso ocorre com uma impunidade surpreendente, mesmo quando há o risco de cyberbullies que forem longe demais sofrerem um atentado à bala na rua.
Também se está na iminência disso. Afinal, há valentões na Internet que brigam demais.
Eles primeiro ofendem pessoas dignas, cometendo assassinato de reputação.
Depois se tornam arrogantes e, num conflito de interesses, briga com aliados. Ou então brigam com aqueles que os valentões gostariam de se aliar, por causa de advertências contra os abusos.
E, de briga em briga, acabam zoando com quem não deve e, na primeira saída da rua num horário menos movimentado, levam um tiro, geralmente de alguém de moto.
Mas no momento os valentões digitais e sua truculência digital parecem ignorar esse risco.
Qualquer advertência recebe logo uma resposta de esnobismo: o famigerado "KKKKKKKKK".
Em muitos casos o valentão reage e agride mais seu interlocutor.
Vai à cidade onde seu desafeto mora, na qual às vezes não consegue encontrar a vítima, mas acaba recebendo marcação de milicianos que, alguns metros adiante, desconfiam do semblante agressivo do valentão.
Uma vez identificado, o valentão pode se envolver e ser morto por gente mais perigosa que ele.
Mas o valentão não admite sequer que seus blogs caluniosos podem ter registro na Polícia Federal.
Quando notificados, ainda não gostam do resultado e reagem procurando ainda mais o desafeto, acreditando ser ele o "dedo-duro".
Ele não percebe, mas às vezes até os amigos denunciam essas páginas, porque não conseguem impedir o encrenqueiro de cometer seus abusos.
E isso tudo cria um cenário de desordem e abusos diversos. Um clima de insegurança social.
O que se sabe é que isso derruba de vez as perspectivas sociais do "espiritismo" brasileiro, que falaram que 2012 teríamos um Brasil "mais solidário".
Só que, em vez da solidariedade, tivemos "sordidariedade".
Evidentemente, os valentões poderão sofrer os efeitos de seus atos, mas até isso acontecer - ainda que não tarde a ocorrer - , eles continuarão ofendendo e agredindo quem eles quiserem.
E aí vemos o quanto o Brasil regrediu profundamente.
Cabe a nós, ao menos, evitar que o fundo do poço tenha subsolo, porque, desde o ano passado, o país já aprofundou demais tantos retrocessos.
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