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"Espíritas" usam ensinamentos de Jesus como desculpa para catolicização

(Por Demétrio Correia)

No "movimento espírita" brasileiro, existe uma desculpa clássica.

Ela é defendida até por movimentos derivados existentes em outros países (como Portugal e Espanha), sobre a catolicização da Doutrina Espírita.

Consiste em dizer que a catolicização é "natural" e "saudável".

"Natural", sob o pretexto de que, supostamente, muitos "espíritas" haviam sido padres, sacerdotes, freiras e beatos de todo tipo do Catolicismo.

"Saudável", sob o pretexto de suposta afinidade com os ensinamentos de Jesus Cristo.

Isso parece bonito como em todo balé de palavras bonitas que os "espíritas" fazem.

Só que é também uma falácia, até porque ninguém vive só de palavras bonitas.

A catolicização da Doutrina Espírita, no Brasil, é um processo perverso.

Afinal, é um processo que retrocede um sistema de ideias, valores e práticas que acaba abandonando os postulados originais de Allan Kardec.

Em vez do cientificismo de molde iluminista do pedagogo francês, o Brasil moldou o "espiritismo" com base no Catolicismo jesuíta português, que, sabemos, tem molde medieval.

A reboque de um Catolicismo velho, que a própria Igreja Católica não queria mais assumir, mudando seus valores e abordagens, ainda que mantendo dogmas e ritos, o Espiritismo, da forma como se faz no Brasil, saiu em prejuízo.

Não houve oportunidade para conhecer os conceitos de Magnetismo do alemão Franz Anton Mesmer, que fez o pedagogo Leon Rivail analisar as mesas girantes e usar o pseudônimo de Kardec.

Não temos traduções brasileiras da obra de Mesmer e os "passes" foram adotados como uma atividade qualquer nota de ficar em pé e sacudir as mãos em cima da pessoa que está sentada à frente.

Isso é apenas um aspecto.

O que se viu, com a catolicização do Espiritismo, foi o empastelamento das ideias de Allan Kardec.

Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco agiram como "inimigos internos" da Doutrina Espírita.

De forma explícita e realista. Chorem, chiquistas e divaldistas!

Os dois, da forma mais evidente, lançaram conceitos e ideias que arrepiariam o pedagogo francês de tanto horror!

"Colônias espirituais", "crianças-índigo", "almas-gêmeas", "resgates espirituais", "previsões com datas determinadas", nada disso era defendido pelos textos de Kardec.

E os "espíritas" saem por aí dizendo que Kardec confirmou o que, na verdade, teria negado sem a menor hesitação.

Daí que a catolicização do Espiritismo tornou-se um mal.

Abriu caminho para as deturpações de todos os sentidos.

Não dá para botar a deturpação debaixo do tapete e achar que tudo é válido por causa da "bondade".

Bondade que serve a fraude e a mistificação não é bondade.

Não há como ficar publicando fotos de crianças pobres tomando sopa e velhinhos doentes deitados na cama, como se isso fosse legitimar a deturpação.

A carteirada religiosa não pode ser desculpa para deturpar o legado de Kardec.

Com todo o aparente belo discurso de "bondade", a defesa da catolicização do Espiritismo no Brasil só nos lembra aquele velho ditado popular:

"De boas intenções, o inferno está cheio".

Substituindo "inferno" por "umbral", entende-se o recado contundente.

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